domingo, 18 de fevereiro de 2007

Línguas

Toda manhã as crianças do condomínio em que moro se reúnem no mesmo local para esperar o ônibus escolar. No primeiro dia em que levei minhas filhas até lá, ouvi três babás conversando em espanhol. Português e espanhol são línguas vizinhas e portanto é fácil a gente entender. Elas ainda não me conheciam e não sabiam deste detalhe. Assim, soltaram a língua e destilaram, em alto e bom som, um bocado de veneno sobre as patroas.
Uma delas, Chinita, veio com os filhos ainda pequenos. Dizia sempre: “Juro pela minha mãe que deste ano não passa, largo esta terra maldita e volto para minha Bolívia”.Vinte anos, três netos e severos invernos depois, ela parou de jurar que volta. Voltar para quê? Sua mãe morreu, sua irmã mudou de país e os amigos estão espalhados. Bolívia agora é só uma lembrança. A outra, veio com os patrões da Nicarágua e a terceira, Olguita, é do Equador. Lembram personagens de filmes do Almodóvar. A não ser Chinita, a boliviana, as outras não falam inglês, embora morem aqui há mais de dez anos. O diálogo entre elas e as crianças é surreal: A babá manda em espanhol, a criança responde em inglês, e não é que se entendem? Pela qualidade da interação, parece até que falam a mesma língua.
Mas agora que perceberam que entendemos o que falam, elas passaram a segurar um tantinho a língua. É uma pena.

2 comentários:

Tullius Detritus disse...

Pior foi quando a Chinita e a Olguita começaram a conversar no outro dia, quando você não estava por perto. "Ha visto, Chinita, que chica hermosa e guapa ha llegado en nuestro barrio?", começou uma. "Si, como no? Y como es atenta, no? Esta siempre a escuchar a nosotras!", respondeu a outra. Eu ouvi o resto, mas não posso contar aqui.

Unknown disse...

Aaaaaaaaahhhhhh Baltha... conta! conta! conta!