segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Mesmo país. Outro Planeta.

Duas esteiras, uma ao lado da outra. Minha amiga brasileira e eu jogávamos conversa fora, e quiçá, alguns quilos também. Nisso surge uma terceira mulher, estaciona no meio da gente, num espaço estreito. Apóia o cotovelo e desembesta a falar:
- Tô aqui há 20 anos, e não fiz nada da minha vida. Quer dizer, fiz filhos.
O fato de compartilhar da mesma nacionalidade deu a mulher liberdade de se sentir entre amigas de longa data:
- Hii menina. - apertou o botão da minha esteira que inclinou uns 40 graus- Agora sim. Quer queimar calorias tem que suar. Já fiz muita aula com personal trainer pra perder peso. Disso eu entendo. Cheguei a pesar 100 quilos.
Depois de uma pequena pausa retomou:
- Vocês já tiveram orgasmo?-
Minha amiga avermelhou e sua pulsação disparou.A mulher continuou.
- Pergunto porque só descobri o que é isso faz uma mês. E comigo mesma, nem foi com aquele traste do meu marido. Olha, vou reunir umas amigas lá em casa, com bolo, pra mostrar umas calças que vou fazer.
- Ah, você costura.Que bacana.- comentei.
- Nunca fiz nada, não tenho a menor idéia. Mas comprei uma máquina e já tenho planos. Vou fazer umas calças, dessas que dão um monte de volta pra amarrar, cruza e cruza, aí prego uns négócios prateados. Adoro calça bem trançada.
- Mas será que esse tipo de calça facilita na hora de ter orgasmo. Sei lá, até desamarrar o cara já desistiu.
- Nada- ela me respondeu- Fala o telefone e e-mail de vocês. Diz aí.....Hi, que demora, querem dar não?
A mulher saiu atrás de papel e caneta e logo estava de volta.
- Agora vou anotar o meu pra vocês. Qual vocês preferem? O e-mail profissional, o particular ou o que distribuo para os amantes?
- Que chique, e-mail só pra amante. Então você está bem, hem?
- Nada, ainda não tem nehum contato ali. Então tá queridas. Vou correr pra minha aula que já começou. Até mais.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Lista da Saudade


1- Ser respeitado como pedestre. Atravessar a rua sem precisar olhar para todos os lados. Incrível, os carros param para você passar! Mas eles sabem também que se arranharem um dedo seu correm o risco de sofrer um processo e perder um dinheirão.
2- As estações do ano. As cores das folhas das árvores no outono. A cerejeira florida na porta de casa na primeira semana da primavera. Brincar na neve com as meninas. Os dias compridos no verão e a festa de luzinhas dos grilos piscando de noite.
3- Netflix, o serviço que entrega os filmes em casa pelo correio. Você escolhe os filmes na internet, monta sua lista e eles entregam de acordo com a ordem que você estabelecer. Adeus prazos e multas. Você fica com o filme em casa o tempo que quiser, devolve pelo correio e eles mandam outro assim que receberem. O acervo deles é completo.
4- Os museus. Os quadros da National Gallery. Ir com as crianças ao simulador de vôo no museu espacial. Procurar o Santos Dumont no museu. (Não tem nada mesmo.)
5- O National Mall. Passear de ponta a ponta, do Memorial Lincoln ao Capitólio, parando para olhar tudo que tem no caminho. Guerras, heróis, mármore. Árvores, gramados, esquilos, gente passeando e andando de bicicleta.
6-Ler os jornais daqui.
7-Jon Stewart e Steven Colbert.
8-Esquecer a chave na fechadura do lado de fora da porta e ninguém entrar.
9- Trader Joe's
10- Nossa casa.
11- Os amigos!!Ah, os amigos!!
12- Conviver com gente de todos os cantos do mundo.
13- Mais pontualidade que a brasileira.
14- Ver a moça que limpa sua casa sair no seu próprio carro, ter sua casa
e vida boa.
15- Escola pública com direito a ônibus na porta de casa para os rebentos.
16- Dirigir. Não há fominha no trânsito. O carro que chegou primeiro ao
cruzamento passa, o outro espera sua vez, pode?
17- As liquidações. Gente, é inenarrável!
18- Os esquilos. Sim, eu sei, falei mal. Mas tenho que confessar: acabei me afeiçoando a esses ratos americanos.

Quem dá mais?

ps1- o moço romeno colaborou.
ps2- Leandra sugeriu o título.

sábado, 7 de novembro de 2009

Arma e Crack


- Hoje um menino da minha classe foi expulso e outro suspenso.- contou Cotô.
- Nossa, expulso, coitado. Por que?
- Ele tinha uma arma e estava fumando crack.
- O quê?
- É, não ouviu? Eles estavam fumando no banheiro e a fumaça disparou o alarme. A polícia chegou e levou um deles com algema.
- Você viu?
- Não, mas todo mundo sabe.

Arma e crack, combinação explosiva. Por pouco não acabou em mais um desses massacres em escolas. Claro que contei pro mundo. A gente encara morar no subúrbio em busca das melhores escolas, pra isso?
No dia seguinte recebemos um e-mail do diretor.

A arma que o moleque carregava era de brinquedo. E o tal crack que ele fumava, pelo que tudo indica, era maconha. Mas segundo a lei local, a punição é a mesma, de mentira ou real, porte de arma dá expulsão.

Corri corrigir a história. Tarde demais.

- Ih, menina, já passei adiante que o menino fumava crack, enquanto
atirava para o alto e engravidava uma colega de turma.- brincou uma amiga.
- Eu ja contei pra todo mundo- emendou a outra- que o menino era loirinho, que o pai era rico, e o crack, e o revolver. No final era maconha, arma de brinquedo, hispânico....acabou com o lead!
- E eu contei que ele era da classe da La Pimenta, a sua caçula, para maior efeito
dramático.
- Uau, a história ficou melhor agora:
Menino Loiro e Rico, de apenas 10 anos, Atirava para o Alto enquanto Fumava Crack e Estuprava sua colega de classe.
- Tá virando manchete. Por isso que eu gosto de trabalhar em equipe. - brincaram.

Vou vender a matéria e vocês confirmam, ok?

sábado, 24 de outubro de 2009

Vai de Porco ou Bruxa?




Um bando de galinhas vestindo máscaras invadiu a festa de Halloween há alguns anos atrás. A vedete da vez é a gripe suína. Mas o bordão do politicamente correto tem boicotado a idéia. Será que o porco vira mote este ano e desbanca as bruxas?

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Lojinha



O tio tinha uma loja de esportes em Maringá. Na noite de natal era pra lá que ele levava os sobrinhos para que escolhessemos nossos presentes. Concedia apenas 5 minutos! Os tênis caros eram escondidos nas prateleiras mais altas, portanto, impossível alcançar. Mas a idéia em si já era um mimo. Tempo esgotado, ele punha a molecada pra fora. Ainda lembro meu irmão saíndo de lá todo prosa carregando um troféu ao lado do primo vestindo uma camiseta 5 números maior que ele. A outra que chorava pois tinha desperdiçado os 5 minutos correndo sem conseguir escolher nada

Pois as liquidações na América lembram o que fazia o tio em sua lojinha: As lojas por aqui anunciam, por exemplo,que apenas durante a hora de almoço do dia tal, todos os artigos do andar tal estarão com 80% de desconto.
Sabia que se você compra algo e no dia seguinte o mesmo produto está em promoção, eles te devolvem a diferença?
Que ninguém tem tempo de ficar conferindo se o preço mudou é mero detalhe...

Tive praticamente que amarrar minha mãe quando ela veio nos visitar. Ficava tão eufórica com as liquidações, que foi apelidada de "A Bruxa do Sale".

Pois é carinos, as promoções aqui são realmente boas, mas nada comparado aos 5 minutos na lojinha do tio.

sábado, 10 de outubro de 2009

Que Venha o Outono

- Sabe, em julho eu estava animada com a expectativa das férias e da viagem. - Suspirou Lisa- Depois que voltei, não há nada por acontecer: Trabalho pra casa, jantar, um copo de vinho. Não vejo a hora de chegar o outono
- Pois lá está, olhe quantas folhas avermelhando nas árvores.
- Como vocês no Brasil vivem sem as quatro estações definidas? O que vocês esperam mudar, já que a paisagem e temperatura não mudam tanto?
- Sei lá, nunca pensei nisso. E logo terei tantas mudanças de novo que digamos, não será por tédio que sofrerei. Mas agora prefiro nem pensar nisso. Que venha o outono!

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Viva Rio!

Os comentaristas aqui na América estão especulando pq Chicago perdeu a chance de ser sede das Olimpíadas- "Será por causa da violência e da morte do menino de 16 anos?" Acho que são dois assassinatos por ano! Que horror.

Pois é, nada como a pacata cidade carioca, que decretou feriado.
Uma amiga aposta que já garantimos medalha de tiro ao alvo em Rio2016, e talvez na nova modalidade a ser criada: 100m rasos sem perder a carteira!

Foi merecido. É uma delícia ver nosso país nas manchetes dos jornais americanos. E todo mundo veio nos parabenizar, elogiar o Brasil.

Bora comemorar que 2016 tá logo ali- e o Rio de Janeiro continua lindo, e o Rio de Janeiro fevereiro e março, alô, alô....

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Êta Mundo Cão!


Um grupo de crianças aguardava os competidores da corrida cruzarem a linha de chegada.

- É o Rich. Aiai- comentou a mulher ao meu lado, ao ver seu segundo marido aparecer vestido numa fantasia de cão.- A Sami não queria que ele fizesse isso.- disse e saiu de fininho.

Rich não era o vencedor. Longe disso.
O homem estava lá fantasiado para apresentar a corrida de cachorros que viria a seguir.

Sami, uma menina ruiva, filha da mulher e enteada de Rich, ficou muda ao ver se aproximar o homem-cão. Ela se escondeu entre as crianças, mas o sujeito continuava a se aproximar, meio corcunda, balançando os braços e determinado a fazer graça. Sami permaneceu muda enquanto as crianças tentavam desvendar quem estava atrás da máscara. A menina, temendo que descobrissem seu patético padrasto sob a pele do cão, anunciou saindo de seu esconderijo:

- É o Rich.
- Rich, Rich- diziam as crianças tentando arrancar a fantasia do homem, dando chutes em sua bunda e croques na sua cabeça.

Nisso um negro atlético cruzou a linha de chegada, correu para o abraço e tirou fotos comemorando a vitória sobre os concorrentes. As crianças abandonaram Rich vestido de cão e foram atrás do vencedor.

Sobraram os cães que se preparavam para a corrida. Um cão latiu, outro levantou a pata para mijar e um deles lambeu a mão de Rich, o cão homem.

Ninguém comemorou ou tirou fotos ao lado de Rich. A cabeça que ele vestia tinha aquele sorriso estático enquanto seus braços balançavam sem parar. Assim, sob a máscara de cão, ninguém soube de fato se o homem ria ou chorava enquanto esteve lá.

Êta mundo cão!

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Aumentando a Lista...

Acrescento à lista anterior, dicas de leitores e amigos brasileiros expatriados como nós:

Andre e Tomas, leitores de Nova York, sugeriram dois ítens à antiga lista. Eles não sentiriam falta:

10- do "churrasco de hot-dog e hamburger" e nem

11- "da Chapinha: cara e não dura nada."

Todos os brasileiros que perguntei foram unânimes ao citar que ficariam felizes sem:

12- O Serviço na América. "Pô, cê mal começou a comer já vem um garçom te apresentar a conta!"

13- Falta de vida noturna:"Sabe por que é Washington DC? D orme C edo

Quem dá mais??

sábado, 19 de setembro de 2009

Coisas que não sentirei saudades

Faltam apenas três meses para acabar nossa jornada americana. Nossas filhas continuam dizendo que não querem voltar para o Brasil. Imagino La Cotoneta, a mais velha, resistindo bravamente, agarrada num banco do aeroporto enquanto nós a puxamos pelas pernas. La Cotô gritando. Já pensou?

Pra mostrar as vantagens de sumir da terra do tio Sam, comecei a elencar as coisas chatas daqui. Delas, não sentirei a menor falta. Espia:

1- Seis meses de frio.
2- Ter que sair do carro com a temperatura abaixo de zero para encher o tanque do carro.
3- Ouvir o barulho abominável da máquina de secar roupas anunciando que é hora de dobrá-las e guardá-las
4- Enfim, toda a cultura do faça você mesmo- cozinhar, depilar, organizar, ralar....
5- Ser chamada de Eidriana.
6-Tirar neve do vidro do carro para poder dirigir.
7-Levar tombo no piso que fica completamente escorregadio depois que a neve derrete.
8- Ser soccer mom.
9- Esquilos


E você, tem algo a acrescentar? Sinta-se a vontade.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Os Tempos De Mao no MoMA



Há uma instalação maravilhosa no MoMA, em Nova York, de um
artista chinês chamado Song Dong. Ele juntou milhares de cacarecos que a mãe
guardou ao longo da vida para enfrentar períodos de escassez. Tem de tubo de pasta de dente vazio até bonecas sem pernas.

O resultado é impressionante e serve como uma aula sobre a cultura e a história dos
chineses.

Quem quiser saber mais, e não puder conferir in loco, pode espiar a matéria que escrevi para o EU&, suplemento cultural do jornal Valor Econômico.

Inté.

Artes Plásticas: Instalação de Song Dong é um tributo à memória de gerações que lutaram contra a pobreza que se seguiu à revolução na China.

Os Tempos de Mao no MoMA
Por Adriana Abujamra, para o Valor, de Nova York

O esqueleto de uma velha casa de madeira ocupa desde junho o salão principal na entrada do Museu de Arte Moderna de Nova York, o MoMA. Espalhados ao redor, milhares de objetos organizados meticulosamente: pedaços de sabão usado, latas vazias, relógios parados no tempo, bonecas sem perna, tubos de pasta de dente vazios. No alto, uma inscrição em neon: "Pai, não se preocupe, nós e a mamãe estamos bem".

O criador da instalação é o artista plástico chinês Song Dong, que organizou tudo com a colaboração de sua mãe, Zhao Xiangyuan. A estrutura de madeira no centro da obra eram os alicerces da casa onde ela vivia. Os objetos ao redor foram acumulados por Zhao durante uma vida inteira e ficaram guardados em sua casa por décadas.

Ao expor o estilo de vida e os pertences da mãe dessa maneira, a instalação de Song Dong oferece um painel fascinante da história do seu país e um tributo à memória de gerações que lutaram contra a pobreza no período que se seguiu à Revolução Comunista na China. Estima-se que mais de 30 milhões de chineses morreram de fome na década de 50.

A instalação foi montada pela primeira vez na China em 2005 e foi vista na Europa antes de chegar a Nova York, onde permanecerá até o mês que vem. Seu título original, que pode ser traduzido para o português como "Não Desperdice", é uma referência à palavra de ordem adotada pelos comunistas para incentivar a população a enfrentar períodos de escassez de alimentos e outros produtos.

"Praticamente toda família chinesa viveu experiências semelhantes", disse Song Dong ao Valor. "Quando um chinês vê esses objetos, ele não os vê apenas como coisas. Eles trazem a essência de uma época. Eles são muito particulares e, ao mesmo tempo, universais."

Numa visita recente ao MoMA, o consultor Song Cheng, que deixou a China há vários anos para trabalhar na Alemanha, sorriu ao ver uma bacia com desenhos azuis e vermelhos. "Não havia banheiro em casa e eu usava uma bacia igual a essa para escovar os dentes e lavar o rosto", contou. Sua avó também guardava todo tipo de objeto em casa. Mas agora que ela tem 95 anos e perdeu a memória, os pais dele deram fim às sua coisas sem que ela pudesse reclamar.

Cada objeto na instalação de Song Dong tem uma história para contar. Sua mãe começou a guardar as barras de sabão usado na década de 60, quando o produto era racionado nas lojas do governo e cada pessoa só tinha direito a meia barra de sabão por mês. Num texto que acompanha a instalação, Zhao conta como transformou o simples ato de lavar roupas numa sofisticada operação doméstica.

Quando tudo o que restava eram pedacinhos de sabão velho, ela juntava tudo dentro de trapos de pano que eram usados até que o último grama de sabão derretesse. Durante anos ela guardou pedaços de sabão e barras usadas pensando em dar de presente para os filhos quando se casassem. "Nunca pensei que eles pudessem se tornar desnecessários, agora que todo mundo usa máquina de lavar", escreveu Zhao. Algumas barras de sabão usadas na instalação são mais velhas do que seu filho.

Zhao nasceu numa família abastada e mudou-se com os pais para Pequim na década de 40. Em 1953, seu pai foi injustamente acusado de espionagem pelos comunistas e acabou preso. Sua mãe teve de cuidar sozinha da família e morreu de câncer pouco depois que o marido saiu da prisão. A família caiu na pobreza e Zhao casou-se nessa época.

Os objetos que agora compõem a instalação de Song Dong foram acumuladas por sua mãe durante 50 anos. Seu hábito de guardar tudo o que entrava em casa se acentuou depois da perda do marido, que morreu de enfarte em 2003. Ela se agarrou a seus pertences como se isso pudesse assegurar que nada mais lhe seria roubado. Os conflitos para evitar que os filhos jogassem fora seus objetos se tornaram frequentes.

"Quando eu era pequeno, me sentia privilegiado de viver numa casa tão cheia de coisas", diz Song Dong. "Depois que nosso padrão de vida melhorou, essas coisas se tornaram um peso. Mas minha mãe continuava a pensar nesses objetos como se fossem um tesouro."

Ele conta que a ideia da instalação surgiu como uma maneira de libertar a mãe da dor causada pela morte repentina do pai. "Aqui ela é o artista e eu sou apenas seu assistente", afirma Song Dong no texto de apresentação da obra. "Organizar suas coisas e reconstruir a velha casa trouxe felicidade para sua vida." A mãe de Song Dong morreu neste ano, pouco depois da abertura da instalação em Nova York.

Num lance irônico, a instalação ocupa agora um espaço nobre no mesmo museu que abriga algumas das obras mais conhecidas de Andy Warhol, o artista que fez do consumismo americano um tema central de sua produção, e num momento histórico em que a economia americana atravessa uma crise profunda e a China se transformou numa das maiores potências econômicas do planeta.

A mãe de Song Dong sempre achou que não podia se desfazer de nada porque tudo o que tinha em casa um dia poderia ser útil novamente. Quando a instalação foi apresentada ao público pela primeira vez, ela fez questão de lembrar isso ao filho: "Guardar essas coisas foi útil, não foi?" Acumulado dia após dia ao longo de uma vida inteira, a coleção de objetos de Zhao enfim reluz.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Execráveis- parte 2

Raios! Eu fecho a cortina que dá para o lixo e o marido romeno cisma em abrir. Fechei. Ele abriu. Fechei novamente. Lá foi o cara.
- Por que? Está tudo aberto, a gente tem a vista maravilhosa das árvores. Mas ver lixo!!!
- Exatamente por isso.
- Pirou? Você fica o dia todo trabalhando no basement, só podia dar nisso..
- Shhh. Fala baixo. Lá vem ele....
- Ele quem? Vai dizer que tá vendo fantasmas..

E não é que o homem começou a andar pé ante pé , com uma vassoura na mão e de repente, abriu a porta e começou a dar pauladas na tampa do lixo. Vi um esquilo fugindo e o homem marido, meu marido carinos, correndo atrás do maldito e soltando palavrões. O bicho grudou a cara na janela, me encarou com um riso cínico, juro, será que também pirei, e fugiu feliz da vida.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Monstros


Antes de me mudar para cá, conversei com duas amigas brasileiras que já que já haviam passado pela experiência de morar em Washington. Elas me previniram:

- Esquilos!!! Fique longe. Aqueles ratos americanos.

- Exatamente- apoiou a outra. - Eles acabam com a roupa...

- Acabam com a vida da gente.

E estavam cobertas de razão.

Hoje, uma amiga mandou um e-mail sobre estes seres execráveis. Cada um de nós, seis ao todo, espalhados pelos recantos mais diversos da cidade, tinha alguma coisa para dizer sobre estes monstros. Eles estão por toda a parte, no subúrbio ou em DC. Não há saída.

- Gente eu acabei de ver um esquilo comendo um passarinho morto, tipo comendo pedacinhos da cabeça do passarinho...eles sempre foram assim sanguinários??

-Ao que consta, quem faz isso são os esquilos cinzas. Os marronzinhos eram mais pacatos.

- Esquilo são como ratos, ratos americanos!

-Eles são nojentos, não percebo como há gente que acha que são adoráveis.

- Acabo de ir lá fora conferir a lata de lixo. Migalhas e restos de comida espalhados ao redor do buraco que eles abriram na tampa da lata no último inverno. Pensei que tinham ido embora com a primavera. Estava errado. Eles voltaram, e estão com fome.

- Oonde será que eles se escondem durante o verão?

-Na floresta, no bosque, no mato. Onde havia nozes e comida de esquilo antes do aquecimento global começar.

-Talvez nao sejam os esquilos, mas sim os guaxinins, indubitavelmente uma espécie ainda mais predatoria...

-São todos comunistas. Não há diferenças.

-Eu me recordo bem do dia em que eu me deparei com um guaxinim. Eu tinha 7 anos, morava em Silver Spring. Ouvimos um barulho do lado de for a da cozinha, de alguem derrubando a lata de lixo que ficava no quintal dos fundos. Eu e minha mãe fomos pé ante pé até a cozinha e acendemos a luz e eis que vimos um guaxinim pego em flagrante comendo o nosso lixo. Ao nos ver, ele saiu correndo. Eu nunca me esqueço dessa cena.

- Eu tinha um amigo alemão que uma vez viu um esquilo a tentar estuprar uma esquilinha numa árvore no jardim dele. Ele foi separá-los com uma vassoura e o esquilo quase que o atacava. A esquila ficou a recuperar do susto durante uns minutos e depois sumiu.

- Tô falando, isso aí é bicho do demo.

- Há quem pense que não existe maldade na natureza, mas eu não sou um deles...

- São mesmo uns animais!

-Eu não me meto com esse povo, não, mas eu gosto bastante de elefantes e de ursos pandas. Se for para fechar com eles, aí tá beleza.

-Esquilos, ratos e pombas são sobreviventes como nós. Devíamos nos unir.

-Eu também voto nos pandas.

Agora, com sua licença carino, vou ali chispar um malditinho esquilo que está destruindo todas as flores na varanda...@#$$%%¨¨&&¨%$##&¨%

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Autonomia


- Veja. A escola de meu filho em São Paulo é maravilhosa- contava a mulher- lá ele aprende autonomia, tão importante.
- Manhêêêêêêêêê!!!!!- gritou o moleque de 16 anos do banheiro- cadê minha toalha?
- Já vai meu anjo.
Logo a mãe volta:
- Pois então, como eu estava a te dizer, a autonomia é.,,
- Pô mãe, e minha cueca?

Pois é. E esta escola, muito conceituada, cobra 1.600 reais por mês, pra ensinar a tal autonomia.
Já falei tão mal da América, mas agora dou o braço a torcer. Minhas filhas aprenderam muito sobre autonomia por aqui.

Logo que chegamos, um de nossos vizinhos propôs que as meninas regassem seu jardim enquanto ele a família estivessem fora. Pensei, rego o jardim mais verde do vizinho e quando eu precisar talvez ele faça o mesmo por mim. Imagine, colocar criança no “batente".

- Obrigado- disse o vizinho- As plantas estão lindas. Da última vez que viajamos, elas morreram todas. Cadê as meninas, vim para pagar.
- Imagine, não foi nada.
O vizinho insistiu muito, estranhando a recusa das verdinhas. Vencido, foi embora. Voltou com latas de chocolates suíços para as meninas.

Ainda acho que gentileza não precisa ser remunerada, e quero passar isso para as meninas. Mas nossa cultura brasileira do favorzinho, do faço o mínimo necessário, da garotada que ganha tudo de mão beijada, não educa, estraga.
Além de cuidar de plantas , a meninada nos Estados Unidos faz baby sitter ou anda cachorro pra ganhar um troco. E de lambuja, aprendem um bocado sobre construção de autonomia.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

A Volta

- Não gosto daqui! Vocês podem voltar pro Brasil, mas eu continuo lá.
- Há três anos, quando a gente decidiu morar nos Estados Unidos, você disse o mesmo. Tá vendo, e foi tão bom.
- Mas naquela época eu só conhecia o Brasil. Agora sei como são os dois países. E te digo: Quero ficar lá!

Nunca imaginei que a volta seria mais difícil. Doce e amarga, ao mesmo tempo.

sábado, 8 de agosto de 2009

Regalias de Visitante

Jodi , americana que pela segunda vez mora fora de sua terra natal avisou: "Voltar para o nosso país é mais difícil que sair. "- e continuou- "E sabe do que sinto falta da época em que morava fora? De vir passar férias aqui, ser visitante na própria terra. A gente é recebido com saudades pelos amigos e família. Há festas, almoços e jantares. Depois minha filha, quando você volta de vez, vira rotina."

Chegamos ao Brasil. Esta é nossa última visita antes da volta definitiva em dezembro. Portanto, bóra aproveitar as regalias de visitante enquanto é tempo.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Crise Econômica









Na floricultura, o dono apareceu oferendo dicas de plantas.
- Muita linda.
- Também acho- disse enfim- vou levar estas.
- Não, você. Casada?
- Sim. Quanto foi.
- Nada, pra você é de graça.
- Só levo se pagar.
Paguei, e um funcionário da loja me ajudou a levar as outras plantas e adubo para o carro- coisa rara nesta terra do faça você mesmo. Chegando em casa, vi que o dono da loja tinha colocado um vaso de flores extras com seu nome e telefone num cartão. Que ousado!
Nunca pensei em ligar pro sujeito, mas aproveitei pra ameaçar o bonitinho que mora comigo. Sempre que ele fazia algo que me desagradasse, eu lembrava:
- Olha que se você não me ajudar aqui em casa eu fujo com o turco da floricultura. Alto, forte, de olhos verdes- (exagero, mas finge que o cara era assim, tá. ) .
Pois não é que outro dia passamos de carro na frente do lugar e estava fechado. Sim! O turco safado deve ter falido, não resistiu a crise econômica, fechou as portas e me deixou na mão.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Triste

Catherine, a Catou, é francesa, casada com Otaviano, um brasileiro. Chegaram aqui antes da gente, há uns 5 anos. Conheci os dois na casa de uma brasileira. Era fevereiro de 2007, carnaval. Verão no Brasil e neve na terra do tio Sam. Chaterine disse pro meu companheiro preparar uma caipirinha pra mim:
"Afinal, depois da gente largar tudo e vir morar neste país, é o mínimo que vocês podem fazer. " brincou ela.
Ela me apresentou um de seus filhos, Pedro, que estava lá.

"Esses nossos filhos tem que ser feitos de concreto armado... "- escreveu Catou numa das primeiras postagens deste blog, Primeiro Dia de Aula. "As vezes"- continuou ela-" bate um sentimento de culpa bastante grande quando penso o quanto dificil eh o que impomos para eles. Ai, rapidinho, usamos o racional para voltar a acreditar que "eh bom para eles"... Argh! Espero que um dia eles nos perdoem?"


O menino Pedro sofreu ontem um acidente de carro. Hoje morreu.

Filho não foi feito pra morrer, no máximo, como disse Guimarães Rosa, ficar encantado.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Guerra do Iraque





O marido de Faith, uma de nossas vizinhas, é advogado e está na guerra do Iraque. Sua função? Dizer aos chefões quais são as ações legais e ilegais do exército americano contra os inimigos.
- Se bem que nem sempre eles escutam o que os advogados dizem.
- Ele volta quando?
- Em janeiro.
- Seis meses! Mas existe skype, né? Uma mão na roda. Assim você e as crianças podem vê-lo.
- Nope! É vetado.
- Mas ao menos tem telefone, ajuda né...
- Nope! Até lá, apenas e-mail. Telefonema poucos e só com hora marcada.
- Uau. Bem, você manda foto das meninas por e-mail...
- A gente tem um limite de fotos pra mandar.
- Você é uma heroina!
- Não. Tem mulher que vive esta situação há mais tempo.
- Hum..
- Ele é meu segundo marido. A gente se conhecia desde a faculdade, rolava um clima. Mas eu já tinha alguém. Assim que me separei a gente começou a se corresponder via e-mail. Fazia 17 anos que eu não o via. Seis meses passam ligeiro.

Ainda bem que Obama começou a retirar as tropas do Iraque. Uma guerra sem o menor sentido...

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Safado!

- Meu pai era um safado. Cada amante que minha mãe descobria, ela jogava toda a roupa dele pela janela.
- Pior que meu pai não devia ser. Eu era pequena e voltei de viagem com minha mãe...
- Are you ready to order?- interrompeu o garçom.
- Não. E aí, conta.
- Então, onde eu tava...ah, entramos em casa e meu pai tava lá com uma mulher...
- E você pequeninha, que dó. Sua história é pior que a minha.
- Pior que a minha duvido!
- Uau, manda.
- Can I bring something to drink?
- Sure. Manda.
- A gente estava em casa. Meu irmão entrou na sala e disse 'Mãe, o pai tá na máquina.'
- Como assim, na máquina?
- Pois é, fomos checar.
- E...
- E aí ele, meu pai, tava lá na safadeza com a amiga da minha mãe. E a máquina lá, trabalhando...

O garçom apareceu de novo. pela terceira vez fez a mesma pergunta, só que em português:

- Vocês já escolheram?
- Quer dizer que você é brasileiro! Safado!

E por falar em safadeza, o governador da Carolina do Sul, o republicano Mark Sanford, deve estar acendendo velas para o Michael Jackson. Pois com a morte do cantor, os noticiários deram uma trégua pro sujeito e sua recém revelada amante argentina. Até fundo musical um noticiário colocou pra falar sobre o romance do cara: " não chore por mim Argentina, eu tenho te amado tanto".
Que coisa. Parece piada!

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Tchuchuco via México


"- Menina, uma loucuuura." - disse Valdirene enquanto aspirava nossa casa- "Eu tava aqui já há 2 anos. E meu Thuchuco lá na lonjura do Brasil. Faz só idéia da saudade. "

Desligou a máquina, e ali de pé, continuou a me contar sua história na América. Valdirene não queria ficar nesta terra pra sempre. "-Deus é grande."
Juntou dinheiro, mandou pra ele comprar uma vã e trabalhar com turistas na Bahia que logo ela iria ao seu econtro na terrinha. Mas o négócio com a vã não era lá lucrativo, a saudade era forte.
Decidiram então que o Tchuchuco viria encontrá-la. Negaram 3 vezes o visto para o Tchuchuco, ô Deus! Foi aí que descobriram um povo na Bahia habituado a trazer a turma via México.

"- Juntei 50.000,00 mil e mandei pra ele vir com meu irmão.- Valdirene se apoiou no aspirador e continuou- "Virgem, diz que o avião entrou bem no meio de uma nuvem que o Tchuchuco se agarrou na poltrona, e até rasgou, tanto medo do avião. "

No México levaram a turma da Bahia pra um baita hotel, piscina e tudo, vida de turista rico. Pensaram que a vida boa era pra sempre. Mas logo a mordomia sumiu. De lá viajaram horas num ônibus e foram largados à noite, perto de um rio.

"- O homem disse pra eles, agora vocês vão nadando. E meu Tcuchuco lá sabe nadar menina? "

O fato é que o Tchuchuco pode até ter medo, mas é macho apaixonado. Atravessou o rio, engoliu um bocado de água, e com ajuda dos amigos e bóia, atingiu o outro lado. Assim que colocaram os pés na América foram pêgos e presos.

"- Mas naquela época- explicou Valdirene- tinha uma lei que se você se entregasse ganhava uma carta com permissão pra ficar de 1 até 3 meses sem problema. "

Nesta época Valdirene começava o batente às 4 da matina e só parava tarde da noite, fazendo até 5 casas num dia. Naquela manhã levou uma amiga, Maria, recém chegada pra dar uma mão. Foi aí que recebeu um telefonema avisando que o Tchuthuco tinha chegado. Gente, a moça largou a tal amiga limpando a casa sózinha, sem saber falar uma palavra em inglês. A tal Maria teve que esperar pra ser resgatada. Mas o motivo era nobre. Valdirene dirigiu com o pensamento fixo até encontrar o homem que ela não via há tanto tempo. Como eles mataram a saudade, Valdirene não dividiu detalhes, mas é safadeza que a gente imagina das boas.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Dor Azul




Assim que acabou o parabéns, sem palmas, como é praxe por aqui, o bolo azulão foi distribuído. A boca e a língua de uma menina sentada longe da aniversariante ficaram celeste na primeira mordida. As lágrimas, ao invés de ajudarem a limpar seu rosto, espalhavam ainda mais o azul do bolo sobre a pele negra da criança. As trancinhas no seu cabelo tentavam servir de cortina para esconder o choro. A professora, ocupada em distribuír mais bolinhos , não notou a dor tingida de azul vinda dali. O lugar ao lado da menina estava vago. Sentei.
- Você quer um pedaço?- ofereci meu sanduiche.
- Não.
- Você tá triste...
A menina soluçou mais.
- Posso te ajudar?
- Ela- disse apontando para outra garota sentada um pouco longe dali- ficou caçoando porque eu não tive bolo no meu aniversário.
- É.- concordou uma de suas amigas, enquanto mastigava um bolo rosa- só porque a mãe dela não tem dinheiro.
- Tem sim! Vou ter uma festa. E vai ser na piscina.- rebateu.
- Foi seu aniversário? -perguntei.
- Hum-hum.
- Parabéns!
- Sete anos.
- Nossa. Bastante, não.
- É- disse limpando o rosto.
- Vocês repararam que estão com a língua azul?- perguntei.
- Os pequenos colocaram a língua pra fora pra conferir. Caíram na risada.
- Este bolo azul é muito melequento! -bravejou uma das crianças.
- Olha- a menina agora brincava de pintar sua mão de azul com o corante do bolo.- tira uma foto de mim?

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Deu nos Nervos!

Gente, deu um treco no meu ciático, travou meu lado esquerdo, tô pagando há dias os pecados que nem cometi. Entre ir ao hospital ou ao pastor da igreja (tem uma moça que quer me converter) fui no primeiro.
A médica apareceu com uma injeção tamanho extra-large da américa. Na minha situação, nem pude fugir. A mulher aplicou a injeção na minha perna boa. Acho que era tática pra eu distrair a dor de uma lado pra outro. E agora estou de molho.
Segundo as normas do convênio, para ir a um escpecialista, é necessário ter um clínico geral. Foi assim que cheguei a uma senhora da Filipina.
- Sinto muito, mas não posso ser sua médica. Vai que você tenha que operar...
Disse num inglês que conseguia ser pior que o meu.
- A senhora só precisa assinar para que eu possa ir ao especialista, entendeu?
-Veja minha menina, vou me aposentar.
- Mas a senhora está aqui, trabalhando. Aceitou marcar minha consulta e me atender. Não está aposentada ainda.
- Sei, mas e se for alguma coisa grave..
- Não é grave, relaxe, vai dar tudo certo- acalmei a médica.
- Vou te confessar. O que eu faço é ver se a pressão tá boa, pesar, medir. Coisinha a toa.
- Ótimo. Só preciso disto. Tão importante estas informações. O especialista é que cuidará do resto, entende?
- Tá certo, faço isso por você.
- Como começou a dor?- a filipina perguntou enquanto media minha pressão pela segunda vez.
- Eu estava caminhando.
- Ah, trabalhando. Hi, vai dar rolo pra mim, se foi no seu trabalho...
- CAMINHANDO, não trabalhando. Compreende?
- Ah, caminhando?- ela disse fazendo a mímica de andar com os dedos das mãos.- continuou.-Nossa, sua pressão está ótima.

Quase beijei a médica por me atender, pode?
O lado bom da desgraça são os mimos da família e dos amigos. Ganhei até uma caixa de chocolate suiço de três andares! Melhor aproveitar e deixar o traseiro descansar.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Levar o Traseiro pra Passear

- Olha- disse a mulher caminhando em minha direção- Achei que fosse só eu! Você também está sem cachorro. Todo mundo tem cão aqui, já reparou?
- Pois é, eu não tenho. Mas costumo me trazer pra passear.- respondi, disse tchau e continuei. Logo a mulher apareceu novamente no meu caminho:
- Moro em apartamento, cachorro precisa de espaço, você não acha?
- Sim, você tem toda a razão.
A mulher parou de andar e continuou a falar:
- Sou de Israel.
- Tel- Aviv?
- Nossa, não acredito, como você adivinhou?
- Só um palpite.
- E você, é francesa?
- Não, brasileira.
- BRAZIL. Outro dia mesmo conheci um brasileiro no supermercado. Ele sabia falar duas frases em hebraico. É tão bom ouvir nossa língua novamente. Tem muito brasileiro aqui?
- Tem gente de todo canto neste país.
Com cuidado para não magoar a mulher, disse tchau e continuei minha caminhada. Afinal, depois do longo inverno a gente tem que levar nosso traseiro pra passear.

sábado, 16 de maio de 2009

Grazia na América



Grazia tinha 20 e poucos anos e caiu de amores por um americano mais velho. A moça disse “ciau” pra Itália, atravessou o oceano até a América. ”Eu estava determinada a fazer isso, e tinha tanto pra aprender. Passei de filha pra mulher, de estudante pra trabalhadora, aprendi a língua, lidei com a falta de grana e com incompatibilidades no casamento, que anos depois acabou em divórcio. ”
Um marido depois, outra separação, uma filha nascida aqui e enfim um namorado italiano, Roberto , Grazia diz que ainda se sente completamente distante dos americanos. Por que?

“ Ah menina, tanta coisa! “

Grazia listou uma série de peculiaridades do povo daqui. Quer ver?

“ O típico americano fala sem parar, parece que tem paúra do silêncio. Eles começam uma conversa nos lugares mais absurdos, tipo banheiro público. O assunto predileto? Dinheiro. Como ganhar e como gastar.

Vivem com pressa. Parece que adoram se sentir estressados. Se você perguntar pra alguém “how are you”? A maioria vai dizer “busy”. Mesmo que não estejam. Muita gente nem tem férias, quando tem, são curtíssimas.

Eles simplesmente não estão nem aí para aprender uma outra língua, os outros é que aprendam o inglês.

Americano não gosta de andar, preferem correr ou dirigir, talvez porisso muitos lugares nem têm calçada.

Credo, você já viu a quantidade de americana que usa unha postiça?

Elas tentam tudo que é tipo de dieta, aí entram na loja do doughnut, compram uma caixa com uma dúzia e levam para o trabalho. Mas sejamos justos, elas dividem, assim não se sentem tão culpadas.

São obcecados por “combinar” , a cor do quarto, do carpete, da cortina do banheiro, mas não têm o menor senso de design, especialmente em roupas.

Gostam de falar, mas não de sentar com os amigos para um jantar, bater papo, saborear a comida e um bom vinho. Ufa, falei.”

Agora meus amigos, vou mangiare o carneiro que Roberto preparou, tomar um bom vinho e continuar a ascoltare o que Grazia tem a dizer.
Gracie Grazia, por partilhar suas histórias.

sábado, 9 de maio de 2009

Yasuko na América










Yasuko carrega o pequeno Kouta que está mamando em seu peito :

- Sabe uma coisa que me epantou logo que cheguei nos Estados Unidos? A cor da comida. Nunca tinha visto nada assim, rosa chocante, azulão. - dá uma risadinha e continua- o cocô do Keito- o outro filho- sai colorido.

O bebê Kouta pára de mamar e pega a maçã do prato da mãe.

- Hã, dababa...- diz enquanto tenta colocar a fruta inteira na boca miúda.
- Que língua será que ele vai falar?
- Acho que inglês. Os irmãos só falam com ele em inglês. - Yasuko dá um gole no chá e continua- Meu marido não quer mais voltar pro Japão.
- E você?
- Se eu conseguir tirar minha licença para trabalhar como médica aqui, tudo bem, embora seja difícil começar tudo de novo. A Maki e o Keito gostam mais daqui também. Sabe, Tókio é muito competitivo. As crianças começam a ser alfabetizadas aos três anos. Os professores lá são muito bravos. E tem mais, é muito caro para morar, paga-se uma fortuna para morar mal.

O menino escuta tudo com a maça na mão até que consegue dar umas mordiscadas.

- Mas acostumar com a comida aqui não é mole. No Japão tá cheio de McDonald's também, mas tem nutricionista nas escolas que planejam as refeições. Tem sempre vegetal, carne e arroz. Aqui é pizza, hamburger e batata frita.

De repente o pequeno arregalou os olhos, abriu a boca, tentou tossir, e o rosto completamente vermelho. Tinha um pedaço da casca da maça entalada na sua garganta. Yasuko lidava de maneira oriental com a morte iminente do próprio filho enquanto eu me continha para não berrar, dar tapas fortes nas costas de Kouta e ligar para o 911.

- É, nada como uma maçãzinha bem natural- brinquei assim que Kouta voltou a rir.
- Melhor eu mesma comer logo esta maça- disse Yasuko.

Enquanto comia, continuou:

-No Japão se você diz que vai ligar e não liga, é algo imperdoável. Aqui a gente diz ' te ligo na quarta' , só uma semana depois o telefone toca. Eu prefiro assim, mais relax. Credo, somos um povo muito contido. Pra você ter uma idéia, missa no Japão é tudo baixinho. Já os coreanos gritam ' DEUS' e choram, choram muito durante toda a cerimônia.

O bebê estava entretido espiando um esquilo que olhava da janela.

-Nossa, tá tarde, preciso ir.
-Pro Japão?
-Não, buscar a Maki.

Mais uma família que veio para passar só um tempo na América, mas certamente, ficará uma vida.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Coleção

Ao longo destes dois anos perdida na América, descobri algumas preciosidades que estão pregadas na geladeira da nossa casa. Quer espiar ?










sexta-feira, 1 de maio de 2009

Gripe Suína


Descobriram o responsável pela gripe suína. Acabei de receber esta foto de amigos.

A tal gripe está se aproximando de casa. Há novos 6 casos em Maryland, sendo que um deles numa escola bem perto daqui. Na minha caixa de e-mail tem umas 30 mensagens das escolas das crianças e de pais apavorados.

Tenho que parar por aqui, pois , atchim, sorry, ronc-ronc.
-Saúde
-Não, suína.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Você é o quê?

A mulher se despede da filha que veio para dormir aqui em casa.
- Amanhã venho às 8 hs.
- Imagine. - disse eu- Pra que tão cedo?
- Domingo, dia de missa.
- Haaa. Então tá.
- Tchau.
- Tchau.

- Laura- perguntou a menina carregando seu travesseiro e mochila para o quarto- você não vai na missa?
- Não.
- Não sabia que você era judia.
- Não sou.
- Você é o que então?
- Eu sou eu.
- De religião tô falando.
- Acho que nada.
- Haaa. Nada?
- Mas se eu fosse seria católica.
- Por que?
- Porque você, a Natalie, a Caroline, todo mundo vai na mesma igreja, deve ser legal.
- É.
- E minha avó às vezes vai na igreja.
- Às vezes?
- É, acender umas velas. Vamos brincar...
- Bora.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Tempo de Vacas Magras...



No Brasil também tem gente gorda, mas acreditem, nunca vi nada comparado aos obesos daqui. Pois bem, Peter, nosso vizinho russo que chegou na América há 7 meses, e ainda está impressionado com o sobre-peso dos americanos, descobriu uma matéria contando o seguinte:

Pessoas obesas gastam aproximadamente $485 mais em roupas, $828 em poltronas extras no avião, e $36 mais gasolina cada ano que as pessoas magras. Pesquisas mostram que um motorista com excesso de peso queima por volta de 18 galões adicionais de gasolina por ano. Quando analisado o gasto de combustível em avião a jato, o Jornal Americano de medicina preventiva estimou que peso extra dos amiricanos custam à airlines $275 milhões para queimar 350 milhões a mais de galões de gasolina.

Minha dica: Em tempos de vacas magras e pessoas tão gordas, talvez um regime nacional fosse a solução para a crise econômica.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Pior Que Telefone Sem Fio


Hoje tem uma matéria no Washington Post, contando como as barreiras de linguagem criam ainda mais complicações para os problemas médicos de imigrantes. Segundo o artigo, mesmo imigrantes que falam inglês suficiente pra trabalhar, sofrem um bocado na hora de entender os jargões médicos. E os diagnósticos complicados criam ansiedade que só agravam os mal-entendidos na comunicação. Na falta de intérpretes, os médicos também entendem tudo errado. O négocio é pior que telefone sem fio.
Um médico conta, por exemplo, o caso de uma mãe que colocou antibiótico no ouvido do filho. Em outro caso, uma mulher chegou com a filha dizendo que a menina se debatia. O médico entendeu que a mãe batia na criança. Resultado: a mãe perdeu a custódia da filha.
Outro paciente chegou gritando, e o médico só entendia:
-Devil, devil- (diabo, diabo)
Antes que encaminhassem o sujeito para um hospício, um enfermeiro bilingue ajudou a clarear a confusão. O homem gritava em espanhol”Debil, debil”, querendo explicar que se sentia fraco.
Se for ao médico na América, preparee-se antes da consulta, caso contrário, sabe-se lá o que te espera.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Alguém se Habilita?





Escritor tem suas esquisitices, mas há um tipo de maluquice que só poderia existir em escritores daqui.
Sabe o que Joyce Carol Oates- novelista e poeta americana- faz quando termina de escrever um livro? Ela liga o aspirador para celebrar! Sim, ela disse ontem numa entrevista para a New York Times Magazine que aspirar a casa lhe dá tamanho prazer que ela alcança a felicidade plena. Joyce nunca teve empregada. Contratar alguém para ser sua faxineira é algo que ela não consegue nem imaginar. Seria o mesmo que contratar a própria mãe.
Alguém se habilita a aspirar minha casa para alcançar a felicidade plena enquanto tento aspirar outras coisas pra minha vidinha?


terça-feira, 7 de abril de 2009

Tarde Demais....

- Mãe, conta uma história de quando eu era pequena?
- Por quê, você não é mais pequena?
- Sou?
- Ok, lembrei uma. Quando você tinha uns dois anos, acordava no meio da noite e ia até nosso quarto. Aquele ser minúsculo, segurando um paninho, sentava no meio da gente, fazia cafuné na nossa cabeça, e dizia: 'Pai, mãe, não pecisa medo. to aqui'.
Entre cafunés , as crias crescem e mudam o rumo da história:
- Não vou pra museu nem morta! Aquela velharia, tô ligada no futuro!!!
Pois é, na última visita ao Brasil, a mocinha só queria voltar pra América. Logo volta da escola com um colar de coração no pescoço:
- Quem te deu filha?
- O quê?
- O colar ué.
- Ah, não lembro.
- Não...você tá apaixonada?
- Humhum, mas agora muda de assunto mãe.
Nossas filhas insistem que nunca mais voltarão para o Brasil. Já imagino o dramalhão no aeroporto em dezembro, quando iremos definitivamente. Bem fez Catherine, minha amiga inglesa, que voltou assim que a filha completou 12 anos. Ela me avisou do perigo de prolongar o tempo por aqui: 'Volte antes que entrem na adolescência'.
Tarde demais....

sexta-feira, 3 de abril de 2009

A Que Horas?


Oferecer festa na terra do Tio Sam tem seus complicadores. O mais difícil é definir um horário.
Os americanos costumam estar esfomeados às 6:00 da tarde, enquanto estômago de brasileiro reclama, geralmente, só depois das 8hs.
Definido o horário, esbarra-se em outra diferença cultural, a pontualidade. Quando der uma festa, uma opção é oferecer horários diferentes, dependendo da nacionalidade do convidado. Para os brasileiros, às 8:00 hs, e para os americanos, a partir das 8:30hs. Mesmo assim, os americanos ainda serão os primeiros a tocar a campainha. Já o pessoal do lado de baixo do Equador...

Falando nisso, com sua licença, querido leitor, preciso atender a porta .

quinta-feira, 26 de março de 2009

Mico

Mico
Entrei na loja para trocar uma blusa que ganhei mas ficou grande. Logo um vendedor solícito apareceu.
- Você tem desta mesma peça, mas tamanho P?
- O quê?-
- Do you have P?
- O quê?- perguntou o vendedor corado, cobrindo a boca com a mão, completamente sem graça. Foi aí que percebi. Ao invés de perguntar se ele tinha o tamanho S, small, perguntei P, de pequeno.
Repeti a pergunta, desta vez trocando o P por S. E fingi que o doido ali era ele, que demorou entender uma questão tão simples.
- Do you have S, small?
- Vou checar.- e o vendedor saiu para o lado errado, tão atrapalhado com uma simples pergunta.
Só porquê me enganei e perguntei se ele tinha xixi! Estes americanos são muito envergonhados. Tststs.

domingo, 15 de março de 2009

Com vocês, minha xará!

Hoje convidei uma amiga para falar aqui no blog, Adriana Maximiliano. Além de companheira de América, a Dri é jornalista, tem dois filhos que nasceram por aqui e coleciona boas histórias pra contar. Aproveitem.
Com vocês, minha xará!
bjs
Adriana

'O melhor amigo da minha filha Babi, de 3 anos, é búlgaro. A primeira babá dela só falava uma língua, polonês. Ela participou de uma colônia de férias em francês no ano passado. A partir de setembro, vai estudar numa escola inglês-chinês. Os aniversários da Babi costumam ter representantes de mais de dez países. E, se você oferecer um pirulito, é grande a chance de ela, sorrindo, dizer: "Muchas gracias!". Antes que alguém quebre a cabeça tentando imaginar onde moramos, eu conto: em Washington. Com tantas embaixadas, organizações internacionais e jornalistas do mundo todo, os parquinhos de Washington são como torres de Babel. É difícil encontrar uma criança que fale apenas um idioma. É claro que tem um preço. Só agora, aos 3 anos e meio, minha filha está soltando a(s) língua(s). Em casa, ela fala português. Com os outros, inglês e espanhol. E, segundo a mãe do Philip, Babi arrisca palavras em búlgaro quando brinca na casa deles. Quem já passou por isso conta que a vida não vai ser tão fácil quanto parece agora. Temos um casal de amigos cariocas que avisou: "Não relaxe nunca. Imponha o português em casa". O filho deles, de 10 anos, visita os avós no Brasil todo ano, mas só fala inglês. Outro casal de brasileiros, cujo filho da mesma idade fala as duas línguas, contou que se fazia de surdo e até deixava o menino chorar de sede se ele pedia "water". Um terceiro acha engraçado o sotaque do português do filho, que aumenta ano após ano. Eu faço questão de que minha filha – e, logo, logo, meu filho, de 6 meses - aprenda e goste do português. Sou jornalista e basta saber que ela vai demorar a ler em português, já que vai ser alfabetizada em inglês. E chinês. Minha casa é cheia de Turma da Mônica, Monteiro Lobato e Ziraldo e passamos cerca de um mês no Brasil todo ano. Mas acredito que o mais importante é ensinar a amar nosso país. Dia desses, eu e meu marido fomos convidados a falar sobre o Brasil na classe dela. Claro que, diante de 18 crianças de 3 anos, escolhi apenas temas gostosos: praia, futebol, Amazônia, carnaval e brigadeiro. (Se daqui a duas décadas, os 18 chegarem ao Brasil de mala e cuia, a culpa é minha.) Todos adoraram saber que existe Ipanema, amaram os palhaços do bloco Gigantes da Lira, dançaram com chapéus do Olodum e bandeirinhas que eu ganhei na embaixada, levaram para casa cartões postais de tucanos e se lambuzaram com meus brigadeiros. Mas nenhum deles estava mais feliz do que a Babi. Ela foi a primeira a dizer que o mapa do Brasil tinha forma de coração e, no meio da apresentação, enquanto eu botava Jorge Benjor para cantar "País Tropical" e meu marido, de terno e gravata, fazia embaixadinhas, ela mandou: "I love you, papai. I love you, mamãe!". Assim mesmo, misturando tudo. Não me fiz de surda e respondi: "Também te amo, Babi". No dia seguinte, quando fui acordá-la para ir a escola, ela disse, em português: "Não quero ir para a escola hoje, mamãe. Eu quero ir para o Brasil!". Isso, sim, não tem preço.'

terça-feira, 10 de março de 2009

Furo de Reportagem


O casal mais famoso do planeta foi ver as filhas jogarem basquete na escola da nossa filha caçula. A pequena não estava lá e nem joga basquete. Mero detalhe. Mas um garoto malandro tirou esta fotografia sem a turma do Serviço Secreto perceber e está espalhando cópias na escola.
O pessoal da escola ficou em polvorosa e quer colocar uma placa onde o Obama sentou. O filho de uma amiga brincou " Vão escrever o quê? Aqui Obama colocou seu bumbum?"
Nossa filha disse que só daria entrevistas "se alguém pagasse", pode?
Pois é… a foto foi parar numa coluna de um jornal de São Paulo. Copiaram uma mensagem que a gente enviou a alguns amigos e publicaram lá- sem pagar um chocolate para a pequena.
Mostrei a nota na coluna do jornal pra Laura, achando que ela fosse se alegrar com a fama súbita. Mas sabe qual foi a reação da pequena? Abriu ainda mais os olhos gigantes: "E agora, mãe? E se o FBI descobre que a tal Laura sou eu? "
Depois que eu lhe garanti " proteção", a pequena pediu que eu esclarecesse aqui no blog dois erros crassos publicados no jornal:
"Primeiro, eu não estudo na mesma escola que a filha do Obama.
Segundo, a escola não é em DC, mas em Maryland. "
Laura pode até não ter estatura para o basquete, mas faro pela notícia a pequena tem.
Dá-lhe Laurinha!

domingo, 8 de março de 2009

Dia Internacional das Mulheres

Muito bom este cartoon. Sei que está minúsculo, mas foi impossível reproduzí-lo em tamanho legível. Então, aqui vai a texto pra vocês.

- Quando vou ganhar meu presente, pai?
- Uhh...presente pra que?
- Hoje é dia internacional das mulheres, então, eu não ganho um presente por ser uma mulher?
- Bem, você é ainda uma menina, não uma mulher.
- Ahhh, isto não é justo!! Quanto tempo tenho que esperar para ser uma mulher oficialmente?
- Oh...provavelmente pra sempre.
- O QUÊ? POR QUÊ?!!!
- Porque eu sou seu pai, e pra mim não importa quão velha você é, você minha filha, sempre será minha menininha.
A menina primeiro fica triste, logo sorri.
- Eu te disse que não era um feriado de dar presente- diz pra ela seu animal de pelúcia.
- Ah- a garota responde suspirando, com corações ao redor dela.- É sim.

Aiai meu papai!



sábado, 7 de março de 2009

Mulher de Palavra

- Sabia que você iria voltar!!!
- Mentiroso. Sabia nada.
- Você sempre disse no blog que não é uma mulher de palavra.
- Que é isso? Quem te deu intimidade pra falar assim de mim?
- Você mesma, oras.
- Você entendeu mal. Se dou minha palavra, pode contar com ela. O negócio é que mudo muito de idéia.
- Dá na mesma.
- Completamente diferente. Senti falta de contar as coisas que vejo neste mundão.
- O que importa é que você voltou.
- Por enquanto.
- Até acabar seu tempo de América, pelo menos, vai?
- Bora lá.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Matei

- Vou matá-lo. Decidi!
- Você tá louca? Quanto tempo ele tem?
- Acabou de completar dois anos. Tá na hora.
- Você vai se arrepender. Eu gosto tanto dele...
- Você já matou um e agora vem com este discurso fajuto pra cima de mim...
- Voz da experiência. Não faça isso...
- Não é uma decisão fácil, eu sei. Mas ando muito ocupada e ele exige atenção que não posso mais dar, entende?
- Entendo, mas discordo.
- E depois deste tempo todo, já não estou mais Perdida na América, né? Não tem mais sentido...
- Pois eu acho que você ainda está perdida.
- Bandida! Isto é coisa que se fale. Perdida sim, faz parte parte de mim. Mas não na América. Agora ando na rua e encontro um monte de conhecidos, não preciso nem de GPS para achar os lugares...
- Mentira pura.
- Tá, exagerei. Preciso de GPS. Continuo perdida, mas “Procurando Firme”, como diz a personagem da Ruth Rocha.
- Ok. Fazer o que...
- Vou sentir falta de muita gente que me acompanhou neste tempo. Vários que nem conheço.
- Tá vendo, já está saudosa.
- Dois anos. Encontrei e revi tanta gente. Antes que eu fique muito sentimental, quero deixar um beijo especial para o WX, Olívia, Dé, Dani, Marina, Helô, Adriana, Maria, Júlia, Rosa, Bia, Má, Chico, Mariângela, Tati, Samir, Laura, Patrícia,Tullius, Andréa, Lecó, Rosângela, Edson, Ana, Renata, Sandra, João, Eduardo, Lili, Fernando, Meireles. Obrigada. Vou sentir saudades!

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Bed Bugs

- Mãe. Posso dormir com vocês? Tem um bichinho na minha cama.
- Vamos lá ver....Não tem nada na sua cama filha. A mãe fica aqui até você dormir, tá bom?
- Eu vi, juro! Um bichinho pequeno e preto andando no lençol.
Na noite seguinte, no mesmo horário, exatas 3 da manhã, a pequena surge novamente:
- Pai, mãe...
- Filha, chega disto.- o pai colocou logo um limite- vamos para o seu quarto.
Depois de inspecionar a cama e não encontrar nada, colocou a menina para dormir. Saiu do quarto ouvindo ainda o lamento da pequena:
- Ninguém me acredita...
- Será que ela tem sonhado com alguma coisa...
- Pode ser....mas toda noite as 3 da manhã é demais!!
- Vou ter uma conversa séria com ela.
Poucos dias depois, a melhor amiga de nossa filha veio do Brasil visitá-la. Numa noite, como o meu marido cara de Romêno estava viajando e as três crianças queriam dormir juntas, cedi minha cama para elas. Fui dormir no quarto da pequena. Ás 3 da manhã acordei completamente devorada e inchada. Malditos seres negros miúdos e lerdos andavam pela cama. Como sou alérgica a picadas, o estrago ficou evidente.
Ô dó. E a gente achando que era manha da pequena.

O infeliz do bicho é tão esperto, que solta uma espécie de anestésico enquanto janta. O efeito do anestésico só acaba quando a barriga do guloso já está cheia. Ou seja, você acorda sempre tarde demais...
A única coisa boa destes pestilentos é que não causam doença. Fora isto, todo o resto é pesadelo. O pessoal do departamento de saúde de N. Y. não sabe mais o que fazer. O foi assunto foi parar até no editorial do jornal The New York Times. Hotéis 5 estrelas têm que amargar a vergonha de ver seus ilustres e abonados hóspedes saírem furiosos e devorados.
“Oi torce, retorce, procuro mas não vejo. Não sei se era pulga ou se era percervejo...”

sábado, 31 de janeiro de 2009

Desejos Coloridos


Tem gente do mundo inteiro nesta cidade. Por isso as escolas promovem uma vez por ano uma Feira Internacional, para cada um mostrar o que seu país tem de bom.
Participamos da feira no nosso primeiro ano aqui. Jurei que nunca mais voltaria. Pudera, o povo arremessou todas as bolinhas de brigadeiro goela abaixo e acabaram com o guaraná num zaz. Depois, de boca ainda cheia, saíram dizendo que o Brasil ficava na Antártida, por conta do “Guaraná Antártica” escrito no rótulo da garrafa. Ah, meus caros! Disse um basta e jurei que nunca, mas nunquinha, participaria novamente deste tipo de palhaçada!
Dois anos depois, lá estávamos ontem de novo, representando o Brasil com Z. Levei guaraná e um monte de fitas do bonfim.
Passei a noite amarrando sonhos nos pulsos de crianças das mais variadas etnias e idades. Olhos grudados em mim, cheios de segredo e silêncio, concentrados em cada nó atado na fita. Um menino demorou para decidir dentre os milhares de desejos que pipocavam em sua cabeça. Alguns chegavam desconfiados da facilidade do negócio:
- Posso pedir o que eu quiser? Qualquer coisa?- perguntou uma menina do tamanho das minhas pernas.
A cada nó, a pequena espremia os olhos, como se a força colocada ali pudesse fazer os desejos se realizarem mais rapidamente.
Logo todas as fitas acabaram. As crianças foram embora carregando sonhos coloridos no pulso.
Meus 3 desejos naquele momento? Saber o que elas pediram, nunca mais pagar o mico de ir a Feira Internacional. O terceiro? Este eu não conto!

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Leis. Pra Quem?

Li na revista The Economist uma matéria que chamou minha atenção.
Numa escola na Flórida, uma menina de 5 anos começou a jogar no chão livros e canetas dos colegas. Foi parar na diretoria, onde continuou a arremessar o que via pela frente. Ninguém segurou e conteve a menina fisicamente por paúra de processo.
Preferiram chamar a policia que levou a pequena algemada.
Uma professora em outra escola, por exemplo, foi processada e teve que desembolsar $20m. A escola fez um acordo, e a professora pagou módicos 90, 000. Qual seu crime? Para conseguir dar aula ela tirou da sala um menino que estava atrapalhando a classe toda. Para isso, colocou suas mãos nas costas do aluno.
Em N.Y., onde a burocracia para suspender um aluno é absurda, os professores estão tão amedrontados em violar os direitos dos estudantes que não conseguem manter a ordem na classe para dar aula.
Até as brincadeiras mais comuns da infância são cercadas de inúmeras leis. Por exemplo, para evitar o menor risco de que as crianças se machuquem no recreio, várias escolas preferem proibir que os alunos corram no parque, ou escalem o trepa-trepa. Preferem deixar as crianças dentro da escola engordando.
Vocês acham que estas leis estão realmente trabalhando a favor das crianças?

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Flashes da Posse de Obama

Esta mulher estava lá com sua neta.
Carregava o cartaz que ela mesma fez.
Chorou quando Obama foi anunciado como o
novo presidente dos Estados Unidos.
Os irmãos Charles e Peter Scarborough. Peter, o da direita,
7 anos, disse que se pudesse entrar na Casa Branca faria
pizza de pepperoni para o Obama e suas filhas.

Equilibrista de bandeirinhas


Este casal levou caixas de papelão para se proteger do frio.



Este menino de 5 anos contou que não sabia bem porque estava ali. Seu pai o levou. "Aí eu vim, né?



Este é Joshua Thomas, 7 anos mas conta pra todo mundo que tem 8. Levou uma cadeira, um cobertor do Bob Esponja e nem se incomodou com o frio.





Este menino, Maeney, 11 anos, de Los Angeles, atravessou o país para participar da festa. Acredite se quiser- adora John McCain mas compareceu a posse de Obama como parte de um passeio da escola.



Imagens da Posse




















































sábado, 17 de janeiro de 2009

Aquecimento

















Hoje compramos os últimos acessórios para enfrentar o frio no dia da posse do Obama.
- O que você está levando- perguntou uma mulher na minha frente.
- Este é pra esquentar o rosto e nariz, tipo máscara de ladrão, e estes pacotinhos que encontrei.
- O que são?
- Hand warmers e toe warmers, calentadores para la punta del pie, está escrito.
- Esquisito. Só esquenta a ponta do pé, e o resto?
- Olhe- respondi- nem sei como funciona. Mas vou experimentar.
- Vocês vão para a posse?- quis saber um homem negro alto e sorridente.
- Sim. Vou com minha irmã. Ela sabe tudo de posse. Não perde uma.
- Vou porque é o Obama- interviu outra mulher- Vou dormir na casa de uma amiga em DC, assim não corro o risco de não conseguir chegar até lá.
- Vou dormir no meu trabalho. A gente vai levar sacos de dormir.
- Eu vou daqui, de metrô- contou o homem.
- Eu também. Vou sair às 6 da manhã- contei toda orgulhosa do meu planejamento e antecipação para que tudo dê certo.
- 6 horas??
- Muito cedo?
- Cedo? A gente vai às 4 da manhã!- contou o homem- assim que o metrô abrir a gente já estará lá.
- Será que devo entrar na onda deste povo e congelar a partir das 4 da manhã ou este povo americano é muito exagerado mesmo?
- Vocês vão levar crianças?- perguntou uma das mulheres.
- Bem, eles já não são crianças, têm 13 e 14 anos. Vamos todos.- disse o homem.
- Dizem que é melhor não levar os pequenos- aconselhou a mulher- vai estar muito frio e será difícil sair do meio da multidão se eles quiserem ir embora.
- Não vai funcionar celular...
- Nem pode levar comida.
- Não?- desesperou-se um homem que ouvia tudo calado.
- Acho que só não pode quem vai assistir ao desfile, mas para o discurso tudo bem.
- Gostei destes seus pacotinhos para esquentar mão e pé.
- Quem quer, são os últimos!- anunciou um dos vendedores.
Em segundos sumiram todos os calentadores. Pela expectativa, é bom que o Obama aqueça a multidão. Como disse Malia, a filha do Obama:
"Primeiro presidente negro....melhor caprichar."

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

O Barquinho Vai...



Rio de Janeiro. 8 horas da noite. Última chance para ver “a maior árvore de natal do mundo” brilhando em seu show de luzes bem no meio da Lagoa Rodrigo de Freitas.
- Quantos pessoas?
- Quatro.
- Trinta reais.
- Que homem esquisito...
- Ele tomou umas...
- Umas? O cara está completamente briaco.
Na entrada do pequeno barco, o “comandante” pediu os tíquetes.
- Acabei de pagar para aquele homem neste segundo.
- Ei- gritou o comandante para o briaco- você não deu os tíquetes para eles.
- Ah- respondeu o bebum- não lembro deles não...nunca vi na vida....
- O quê? Paguei pra você agora mesmo!
- Eu vi eles pagando- saiu em defesa uma mulher que acabara de entrar no barco.
Assim que a embracação estava completa- apenas seis passageiros- o comandante falou:
- As crianças têm que usar coletes salva-vidas.
- Uai, eu também quero- gritou a mulher- só vim hoje porque é o último dia. Tenho muito medo de morrer afogada. Lembra do acidente daquele barco no ano novo? Aquele tal de Bateau alguma coisa...Cruz credo. Morreu tanta gente.
O barco começou a andar enquanto a mulher- vestindo o colete amarelo e agarrada ao banco- continuava a lembrar da tragédia passada perdendo a atração do passeio.
- Olha, quantos peixes.- descobriu a menina.
Nisto, um pequeno ser prateado pulou da lagoa para dentro do barco bem no meu pé. O pobre se debatia tanto que a mulher deixou de falar de catástrofes, teve coragem de soltar as mãos que estavam agarradas ao banco e focou no peixe:
- Dá ele aqui, dá aqui, vou levar pro meu filho.
- O quê, um peixe morto fedendo? Deixe o pobre voltar pra água.- argumentou o homem que estava com ela.
- Não, não, não. Vou levar pra casa. - disse a mulher arrancando o peixe da mão do moço que estava prestes a jogar o bicho novamente na água.
- Ecth, que cheiro ruim ficou na minha mão- gritou a mulher, desistindo do peixe que enfim voltou para a água.
- Olhe que linda as luzes mudam toda hora.- observou uma das crianças.
- O que aquele pedalinho está fazendo tão perto da árvore? Tem uma placa dizendo que é proibido entrar ali.
- Ayuda, ayuda!
- Ouviram estes gritos?
- Vem do pedalinho.
- Vamos lá- disse o comandante virando a direção do nosso barco.
Um menino e sua mãe choravam dentro do pedalinho.
- Estamos perdidos a tiempo. No consigo llegar de ningún modo.
- E é noche. Oscuro.- completou o menino.
- Vou prender o pedalinho de vocês em nossa embarcação, assim vocês serão puxados pelo nosso barco até terra firme.
- ¡Gracias!
Minutos depois a “maior árvore de natal do mundo” também foi retirada da lagoa Rodrigo de Freitas.