domingo, 31 de janeiro de 2010

Para cada um de vocês que acompanhou o blog durante esses três anos,

boa sorte e obrigada.

Adriana

domingo, 24 de janeiro de 2010

Hora de Ir




Viajando como mochileira pela Europa há mais de vinte anos atrás, acabei seduzida pela Itália e os amigos que conheci por lá. No dia de ir embora, estava muito frio. Ticiano e Fiorella nos acompanharam até a barca que atravessaria os canais de Veneza. Trocamos abraços muito demorados. Perto de entrar na barca, ouvi Fiorella me chamar . Voltei e vi minha amiga correndo de volta. Tirou do pescoço um lenço verde de seda que usava diariamente. Enrolou-o em volta de meu pescoço. Aquele pedaço de pano era um pouquinho ela. Guardo-o até hoje. E coincidentemente era ele que esquentava meu pescoço no dia de nossa despedida nos Estados Unidos.
Minha amiga Americana apareceu para se despedir. Tirou de sua bolsa um pequeno embrulho e me entregou. Eram os brincos brancos que ela usava com frequência:

- Quando voce usar, vai lembrar de mim.

Vesti os brincos, usando ainda a echarpe verde da amiga Italiana que nunca mais revi.

Nossa casa estava cheia de amigos que tinham aparecido para se despedir. Minha vizinha tentou colocar no bagageiro do carro um colchão de casal que demos para ela. Nao coube. A saída foi levar na capota do carro, cheio de neve. Com uma mão ela segurava o colchão, com a outra a direção. Da janela disse:

- Até amanhã.

Hora de partir.

Amigas de La Pimenta a carregavam no colo e choravam.

La Cotoneta foi num carro ocupado por mais quatro amigas. Uma turca, outra alemã, a terceira koreana, uma americana e La Cotô, brasileira, ou todas americanas depois de tanto tempo por lá?

O caminho até o aeroporto foi de música, abraços e choro.

A sinfonia de fungos aumentava a medida que chegávamos mais perto. No saguão do aeroporto, as cinco amigas se abraçaram numa roda. Uma moça parou para observar. Um senhor veio me contar que tinha passado pela mesma situação quando era mais jovem e teve que se despedir dos amigos em seu país de origem. Uma menina puxou a mãe para que pudesse observar a cena. Outra tirou fotos.

Hora de ir.

As meninas puxaram La Cotô, ofereceram suas casas para que ela morasse e juraram amizade eterna. Não foi fácil atreavessar aquele portão.

2010 supimpa para todos.
Adriana.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Sala Vazia

Caixas no meio da casa, janelas sem cortinas e filhas sem vontade de partir. A companhia de mudança levou tudo, menos nós, que ainda tínhamos quatro dias de América.

As meninas dormiram na casa de amigas na pressa de aproveitar cada minuto no país. O marido romeno, o cara que ocupará o posto do marido romeno eram meus companheiros ali. Nevava tanto, como não acontecia há anos. Os carros sumiram sob a brancura, as portas nao abriam deixando todos presos em suas casas. O telefone tocou:
- Adriana-era uma de nossas vizinhas- como tá sua despensa?
- Alguns pacotes de macarrão, 2 latas de sopa, barra de cereal...
- Menina, a parentada do meu marido chegou hoje, minha geladeira está vazia e não da pra sair de casa com essa neve.
- Passa aqui então.
- Se eu conseguir abrir minha porta e chegar aí. Valeu!

Não conseguiu.

Brindamos nosso último sábado na América com uma garrafa de vinho já aberta, dividimos um quiche e dúvidas sobre o futuro na sala vazia.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Mesmo país. Outro Planeta.

Duas esteiras, uma ao lado da outra. Minha amiga brasileira e eu jogávamos conversa fora, e quiçá, alguns quilos também. Nisso surge uma terceira mulher, estaciona no meio da gente, num espaço estreito. Apóia o cotovelo e desembesta a falar:
- Tô aqui há 20 anos, e não fiz nada da minha vida. Quer dizer, fiz filhos.
O fato de compartilhar da mesma nacionalidade deu a mulher liberdade de se sentir entre amigas de longa data:
- Hii menina. - apertou o botão da minha esteira que inclinou uns 40 graus- Agora sim. Quer queimar calorias tem que suar. Já fiz muita aula com personal trainer pra perder peso. Disso eu entendo. Cheguei a pesar 100 quilos.
Depois de uma pequena pausa retomou:
- Vocês já tiveram orgasmo?-
Minha amiga avermelhou e sua pulsação disparou.A mulher continuou.
- Pergunto porque só descobri o que é isso faz uma mês. E comigo mesma, nem foi com aquele traste do meu marido. Olha, vou reunir umas amigas lá em casa, com bolo, pra mostrar umas calças que vou fazer.
- Ah, você costura.Que bacana.- comentei.
- Nunca fiz nada, não tenho a menor idéia. Mas comprei uma máquina e já tenho planos. Vou fazer umas calças, dessas que dão um monte de volta pra amarrar, cruza e cruza, aí prego uns négócios prateados. Adoro calça bem trançada.
- Mas será que esse tipo de calça facilita na hora de ter orgasmo. Sei lá, até desamarrar o cara já desistiu.
- Nada- ela me respondeu- Fala o telefone e e-mail de vocês. Diz aí.....Hi, que demora, querem dar não?
A mulher saiu atrás de papel e caneta e logo estava de volta.
- Agora vou anotar o meu pra vocês. Qual vocês preferem? O e-mail profissional, o particular ou o que distribuo para os amantes?
- Que chique, e-mail só pra amante. Então você está bem, hem?
- Nada, ainda não tem nehum contato ali. Então tá queridas. Vou correr pra minha aula que já começou. Até mais.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Lista da Saudade


1- Ser respeitado como pedestre. Atravessar a rua sem precisar olhar para todos os lados. Incrível, os carros param para você passar! Mas eles sabem também que se arranharem um dedo seu correm o risco de sofrer um processo e perder um dinheirão.
2- As estações do ano. As cores das folhas das árvores no outono. A cerejeira florida na porta de casa na primeira semana da primavera. Brincar na neve com as meninas. Os dias compridos no verão e a festa de luzinhas dos grilos piscando de noite.
3- Netflix, o serviço que entrega os filmes em casa pelo correio. Você escolhe os filmes na internet, monta sua lista e eles entregam de acordo com a ordem que você estabelecer. Adeus prazos e multas. Você fica com o filme em casa o tempo que quiser, devolve pelo correio e eles mandam outro assim que receberem. O acervo deles é completo.
4- Os museus. Os quadros da National Gallery. Ir com as crianças ao simulador de vôo no museu espacial. Procurar o Santos Dumont no museu. (Não tem nada mesmo.)
5- O National Mall. Passear de ponta a ponta, do Memorial Lincoln ao Capitólio, parando para olhar tudo que tem no caminho. Guerras, heróis, mármore. Árvores, gramados, esquilos, gente passeando e andando de bicicleta.
6-Ler os jornais daqui.
7-Jon Stewart e Steven Colbert.
8-Esquecer a chave na fechadura do lado de fora da porta e ninguém entrar.
9- Trader Joe's
10- Nossa casa.
11- Os amigos!!Ah, os amigos!!
12- Conviver com gente de todos os cantos do mundo.
13- Mais pontualidade que a brasileira.
14- Ver a moça que limpa sua casa sair no seu próprio carro, ter sua casa
e vida boa.
15- Escola pública com direito a ônibus na porta de casa para os rebentos.
16- Dirigir. Não há fominha no trânsito. O carro que chegou primeiro ao
cruzamento passa, o outro espera sua vez, pode?
17- As liquidações. Gente, é inenarrável!
18- Os esquilos. Sim, eu sei, falei mal. Mas tenho que confessar: acabei me afeiçoando a esses ratos americanos.

Quem dá mais?

ps1- o moço romeno colaborou.
ps2- Leandra sugeriu o título.

sábado, 7 de novembro de 2009

Arma e Crack


- Hoje um menino da minha classe foi expulso e outro suspenso.- contou Cotô.
- Nossa, expulso, coitado. Por que?
- Ele tinha uma arma e estava fumando crack.
- O quê?
- É, não ouviu? Eles estavam fumando no banheiro e a fumaça disparou o alarme. A polícia chegou e levou um deles com algema.
- Você viu?
- Não, mas todo mundo sabe.

Arma e crack, combinação explosiva. Por pouco não acabou em mais um desses massacres em escolas. Claro que contei pro mundo. A gente encara morar no subúrbio em busca das melhores escolas, pra isso?
No dia seguinte recebemos um e-mail do diretor.

A arma que o moleque carregava era de brinquedo. E o tal crack que ele fumava, pelo que tudo indica, era maconha. Mas segundo a lei local, a punição é a mesma, de mentira ou real, porte de arma dá expulsão.

Corri corrigir a história. Tarde demais.

- Ih, menina, já passei adiante que o menino fumava crack, enquanto
atirava para o alto e engravidava uma colega de turma.- brincou uma amiga.
- Eu ja contei pra todo mundo- emendou a outra- que o menino era loirinho, que o pai era rico, e o crack, e o revolver. No final era maconha, arma de brinquedo, hispânico....acabou com o lead!
- E eu contei que ele era da classe da La Pimenta, a sua caçula, para maior efeito
dramático.
- Uau, a história ficou melhor agora:
Menino Loiro e Rico, de apenas 10 anos, Atirava para o Alto enquanto Fumava Crack e Estuprava sua colega de classe.
- Tá virando manchete. Por isso que eu gosto de trabalhar em equipe. - brincaram.

Vou vender a matéria e vocês confirmam, ok?

sábado, 24 de outubro de 2009

Vai de Porco ou Bruxa?




Um bando de galinhas vestindo máscaras invadiu a festa de Halloween há alguns anos atrás. A vedete da vez é a gripe suína. Mas o bordão do politicamente correto tem boicotado a idéia. Será que o porco vira mote este ano e desbanca as bruxas?