sábado, 22 de setembro de 2007

Guerra aos piolhos



Há muitas diferenças entre o Brasil e os Estados Unidos. Mas tem uma coisa que é absolutamente igual nos dois países.
Outro dia chegou uma carta de alerta da escola:
"Detectados casos de piolhos. Examinem a cabeça de seus filhos."
Piolho é igual em qualquer parte do mundo. Não faz distinção de raça, religião ou classe social. É um bicho politicamente correto. Mas tem que morrer mesmo assim.
Há tempos o remédio mais potente para matar piolhos era o Neucides, um veneno branco, feito o que usavam para exterminar baratas. Espalhava-se a coisa sobre o cabelo e em seguida amarrava-se um lenço ridículo para cobrir a cabeça. As crianças aguardavam enquanto os piolhos agonizavam ali embaixo do lenço. Era difícil aguentar. Os piolhos corriam na esperança de fugir, o que provocava uma coceira violenta. Depois, o cabelo das crianças era cortado bem curto. Para fingir que a razão do corte era mais nobre, a desculpa mais comum para os amigos era:
"Cortei para fortalecer meu cabelo."
Os piolhos vêm resistindo ao longo dos anos, mas felizmente os remédios têm evoluído bastante.
Os medicamentos mais modernos usam táticas parecidas com a do Bush na guerra do Iraque. A principal diferença é que eles funcionam e foram criados por um bom motivo.
Primeiro eles atacam os piolhos. Depois tem um frasco para acabar com as lêndeas, os ovinhos com os piolhos que ainda estão por nascer. O último canhão é um spray que espalha veneno pela casa toda.
Embora os piolhos sejam idênticos, cada país chama o bicho com nomes diferentes. Aqui o dito cujo é conhecido como "lice".
Aprendi o o nome do bicho logo no início da nossa experiência aqui. Eu estava esperando o ônibus escolar com as minhas filhas quando apareceu outra criança com a avó. A mulher perguntou se as meninas sentiam falta da família e dos amigos. Contei que minhas filhas tinham muita saudade dos cafunés da avó. Como eu não sabia dizer "cafuné" em inglês, mostrei o que era. A mulher entendeu tudo errado e se afastou com nojo da gente:
"Lices!"
Foi aí que o ônibus chegou. A mulher segurou a mão da neta e correu, antes que algum piolho voasse para a cabeça delas.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Homesick

O moleque de 13 anos ia fazer intercâmbio nos Estados Unidos . Olhou ainda pela janela à procura de seus amigos, dos irmãos, de seu pai, que estava orgulhoso dele, e de sua mãe.
A porta do avião fechou.
“ Apertem o cinto de segurança.”
O motor foi ligado. Ali ele se deu conta que ficaria seis meses longe de todos. Quis descer. Soltar o maldito cinto e sair gritando para o avião parar, que ele tinha mudado de idéia, melhor era ficar ali mesmo no dia seguinte tinha futebol. Enquanto isso, o avião acelerou até decolar. O frio na barriga foi tanto, mas tanto, que pra não sentir desepero de saudade o moleque decidiu que não pensaria nos queridos enquanto estivesse longe. E que nunca mais na vida faria um treco desse. Promessas que nunca cumpriu.
Uma amiga contou que suas filhas não viam a avó há seis meses. Quando a avó veio visitá-las, as meninas choraram muito. Só ali, enquanto abraçavam a avó, disseram, se deram conta do tamanho da saudade.
Como diz minha filha: “Se a gente pudesse importar os amigos e a família, morar aqui seria perfeito.”
Fomos para o Brasil de férias. Minha mãe estava com febre, um pouco mais cansada. Mesmo assim foi ao aeroporto se despedir de nós. Logo que atravessei a porta de vidro deixando-a para trás, senti como estas crianças.
Assim aprendemos na carne o significado da palavra homesick.
Mas pensando bem, tanto tempo convivendo dia e noite, já estava mesmo na hora de despedir. ..
Esse é o lado bom da distância.
Uma amiga contou que quando morou fora o filho sentia falta até do primo “insuportável”. Que longe virou o “primo mais legal do mundo.”
A distância é capaz de fazer milagres!!
Mas veja bem. Ouvi dizer que a distância perfeita da sogra é aquela nem tão perto que ela te visite todo dia, mas nem tão longe que tenha que se hospedar na sua casa.