sábado, 29 de março de 2008

Sabor de Subúrbio


- Good morning Eidriana.
- Alô, quer dizer, hello, what horas são?
A vizinha convida para um passeio nesta manhã chuvosa. Ir com as crianças ao Costco. Este é um lugar conhecidíssimo por aqui, onde se vende de comida à computador.
- Tudo muito mais barato- ela garante.
Que Costco que nada. Esfreguei meus olhos e ia soltar logo o não vou nem morta...
- Passo aí daqui 20 minutos.-Decretou e desligou.
Entramos no carro dela.
- Já pensei em tudo.- diz ela- vamos comer uma pizza lá.
Numa mesa de plástico, abrimos uma enorme caixa.
-Hum, que delícia- diz a vizinha enquanto a menina mais velha concorda já de olho no próximo pedaço.
O difícil foi guardar as pizzas que trouxe pra casa. Tamanho GG, não entraram no congelador. Hehehe...

Em seguida fomos passsear com as quatro crianças, dois cães e uma bolinha.
Sarah, cão de uma amiga que está há uns dias na nossa casa e o cão delas, um labrador.
Sarah é ágil, pula, abocanha a bolinha se coloca na posição de espera para o próximo arremesso.
Enquanto isto, o outro cão pesado,continua empacado à despeito da torcida.
A vizinha oferece pequenas bolachinhas:
- Vai , go, go, go, pega a bolinha- exige, acenando um saco de bolachas compradas no Costco, como recompensa. Entre a bolinha e as bolachas, o cão decide cheirar os cantos. As duas meninas indignadas, donas do cão pesado, empurram o pobre.
- Go, pega a bola, vai...vai...anda...
O cão emperra. A pequena chora olhando o seu próprio cão. O pesadão não tem o espírito competitivo, tão valorizado por aqui.
- Ela já foi ligeira. - relembra a vizinha- Como a dona- ela completa, debochando de si.

sexta-feira, 21 de março de 2008

Adinha dos Purga

Diz que a menina Adma morava numa cidade vermelha.
Tinha o cabelo vermelho preso numa trança feita e a outra desfeita.
Vai escutando...

Ada dos Purga tinha um bando de irmão mas só um par de sapato. Quer dizer, só um
sapato. No outro pé ela ela enfaixava pra disfarçar.
Barbaridade...

Quando ela completou 11 anos, sua mãe Olinda arrumou as trouxinhas da filha:
- Vai estudar em São Paulo.
Foi.
Vai escutando...

A menina, bem dizer, praticamente abandonada pela própria mãe ...
foi parar na casa de tias que não davam muita bola pra ela.
Mesmo assim Adinha repete diariamente que "sangue não é água."
Barbaridade...

Até que foi morar com as amigas na Casa Universitária. Amigas até hoje,
benza Deus...

Adinha dos Purga conheceu um moço, Miguel. Miguel, abandonou a noiva pra casar com a Adinha.
Vai escutando...

Assim como Dona Olinda e seu Assad, Ada dos Purga e Miguel tiveram 5 filhos. Quase um por ano.
A primeira filha nasceu com uma cara no meio de dois vivos olhos verdes.
Em seguida Ada dos Purga pariu o raio de sol da mamãe, com bilulu tão avantajado que quase foi trabalhar no circo.
A terceira filha nasceu linda, maravilhosa, "uma polaquinha!!!!"
Em seguida o quarto filho, ao ivés de chorar já chegou rindo, "o risonheta". Miguel, depois de analisar as feições do moleque, advertiu - "é melhor a gente parar por aqui, bem, este aí parece fim de raça".
Pararam. Mas cinco anos depois, esqueceram da promessa e chegou o caçulinha.

O casal ofereceu uma educação primorosa para os rebentos:
Aulas de Latim, para ajudar o amigo desempregado. Obras de arte na parede , eram os quadros do amigo que não conseguia vender nada e usava a casa de depósito.
Teatro, a família ia em peso fazer número na platéia vazia dos amigos.
E muita, muita música.
O casal brigava cantando. Ada dos Purga começava animada:

-Eu gostei tanto, tanto, quando me contaram, que te encontraram bebendo e chorando na mesa de um bar....mas enquanto houver voz em meu peito eu não quero mais nada. Só vingança, vingança...

O Miguelzinho, no seu pijamão listado com o dito cujo do pipi saindo da calça, o cabelo desgrenhado e cinco cigarros esquecidos no cinzeiro, revidava:

-Vou me embora daqui, vou procurar outro lugar...você só pensa em reclamar...
As crianças completavam a melodia batucando nos banquinhos da cozinha.

E no meio do batuque, das roupas jogadas pela janela, da casa cheia de gente, as crianças cresceram. Um dia o Miguelzinho saiu de casa.
No outro o coração dele batucou muito forte e parou.

Adinha dos Purga educou sozinha estes filhos monstros
Pouco depois um sobrinho foi morar com Adinha dos Purga. Passando de 5 pra 6 o número de filhos monstros. Tanto trabalho, pra quê? Tudo pérolas aos porcos.

Mais gente foi entrando na família, as noras monstros, genro monstro e alguns cães.
Aí os filhos montros começaram a fazer netos pra Adinha: O Dani- dengo, a Jú- jóia, a Laura- linda, a Tutuca- teca e a Marina- muleca.

Até hoje Adinha dos Purga reúne a família e os amigos em volta da mesa, onde sempre tem lugar pra mais um. Mas Adinha dos Purga nunca senta, rodeia, serve os outros, dá uns golinhos na sua cervejinha, uns tragos no cigarro e não pára de dizer que "Deu tudo errado na comida ".

Construíram prédios e mais prédios no bairro. Só uma casa resiste bravamente pulsando no meio do quarteirão. A casa da Ada dos Purga. "Amiga não repara a bagunça..."
Diz que a história da Adinha dos Purga não acaba nunca porque até hoje ela não conseguiu contar um caso atá o fim.
BARBARIDADE...

quinta-feira, 13 de março de 2008

Chiclete no Cabelo


"Fui dormir com um chiclete na boca e tem chiclete no meu cabelo..." este é só o começo de um terrível, horrível, nada bom, péssimo dia na vida de um menino no livro para crianças: Alexander and the Terrible, Horrible, No Good, Very Bad Day, de Judith Viorst.

As coisas só pioram a cada página. O refúgio do moleque é fantasiar que quando ele estiver na Austrália as coisas vão melhorar. O livro acaba com o pobre na cama e- desculpa- fodido e mal pago. Não aparece um mísero ser mágico para ajudar o garoto a atravessar seu lamentável dia. Além do humor, o livro nos consola mostrando que este tipo de coisa faz parte da vida de todo mundo.

Tentei fugir do meu terrível dia correndo. Calcei meu tênis e saí de casa no meu surrado abrigo e meu i-pod. Corri no frio. meu rosto quase congelou. Corri mais rapido. Quis deixar pra trás os três meses de inverno. Acelerei o passo. Árvores peladas. Fui mais rapido ainda. Voluntariado forçado no tranco dentro de casa. O fôlego do meu Horrible dia bateu o meu.

Vambora para Austrália ou pra Passárgada ou...