segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Êta Mundo Cão!


Um grupo de crianças aguardava os competidores da corrida cruzarem a linha de chegada.

- É o Rich. Aiai- comentou a mulher ao meu lado, ao ver seu segundo marido aparecer vestido numa fantasia de cão.- A Sami não queria que ele fizesse isso.- disse e saiu de fininho.

Rich não era o vencedor. Longe disso.
O homem estava lá fantasiado para apresentar a corrida de cachorros que viria a seguir.

Sami, uma menina ruiva, filha da mulher e enteada de Rich, ficou muda ao ver se aproximar o homem-cão. Ela se escondeu entre as crianças, mas o sujeito continuava a se aproximar, meio corcunda, balançando os braços e determinado a fazer graça. Sami permaneceu muda enquanto as crianças tentavam desvendar quem estava atrás da máscara. A menina, temendo que descobrissem seu patético padrasto sob a pele do cão, anunciou saindo de seu esconderijo:

- É o Rich.
- Rich, Rich- diziam as crianças tentando arrancar a fantasia do homem, dando chutes em sua bunda e croques na sua cabeça.

Nisso um negro atlético cruzou a linha de chegada, correu para o abraço e tirou fotos comemorando a vitória sobre os concorrentes. As crianças abandonaram Rich vestido de cão e foram atrás do vencedor.

Sobraram os cães que se preparavam para a corrida. Um cão latiu, outro levantou a pata para mijar e um deles lambeu a mão de Rich, o cão homem.

Ninguém comemorou ou tirou fotos ao lado de Rich. A cabeça que ele vestia tinha aquele sorriso estático enquanto seus braços balançavam sem parar. Assim, sob a máscara de cão, ninguém soube de fato se o homem ria ou chorava enquanto esteve lá.

Êta mundo cão!

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Aumentando a Lista...

Acrescento à lista anterior, dicas de leitores e amigos brasileiros expatriados como nós:

Andre e Tomas, leitores de Nova York, sugeriram dois ítens à antiga lista. Eles não sentiriam falta:

10- do "churrasco de hot-dog e hamburger" e nem

11- "da Chapinha: cara e não dura nada."

Todos os brasileiros que perguntei foram unânimes ao citar que ficariam felizes sem:

12- O Serviço na América. "Pô, cê mal começou a comer já vem um garçom te apresentar a conta!"

13- Falta de vida noturna:"Sabe por que é Washington DC? D orme C edo

Quem dá mais??

sábado, 19 de setembro de 2009

Coisas que não sentirei saudades

Faltam apenas três meses para acabar nossa jornada americana. Nossas filhas continuam dizendo que não querem voltar para o Brasil. Imagino La Cotoneta, a mais velha, resistindo bravamente, agarrada num banco do aeroporto enquanto nós a puxamos pelas pernas. La Cotô gritando. Já pensou?

Pra mostrar as vantagens de sumir da terra do tio Sam, comecei a elencar as coisas chatas daqui. Delas, não sentirei a menor falta. Espia:

1- Seis meses de frio.
2- Ter que sair do carro com a temperatura abaixo de zero para encher o tanque do carro.
3- Ouvir o barulho abominável da máquina de secar roupas anunciando que é hora de dobrá-las e guardá-las
4- Enfim, toda a cultura do faça você mesmo- cozinhar, depilar, organizar, ralar....
5- Ser chamada de Eidriana.
6-Tirar neve do vidro do carro para poder dirigir.
7-Levar tombo no piso que fica completamente escorregadio depois que a neve derrete.
8- Ser soccer mom.
9- Esquilos


E você, tem algo a acrescentar? Sinta-se a vontade.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Os Tempos De Mao no MoMA



Há uma instalação maravilhosa no MoMA, em Nova York, de um
artista chinês chamado Song Dong. Ele juntou milhares de cacarecos que a mãe
guardou ao longo da vida para enfrentar períodos de escassez. Tem de tubo de pasta de dente vazio até bonecas sem pernas.

O resultado é impressionante e serve como uma aula sobre a cultura e a história dos
chineses.

Quem quiser saber mais, e não puder conferir in loco, pode espiar a matéria que escrevi para o EU&, suplemento cultural do jornal Valor Econômico.

Inté.

Artes Plásticas: Instalação de Song Dong é um tributo à memória de gerações que lutaram contra a pobreza que se seguiu à revolução na China.

Os Tempos de Mao no MoMA
Por Adriana Abujamra, para o Valor, de Nova York

O esqueleto de uma velha casa de madeira ocupa desde junho o salão principal na entrada do Museu de Arte Moderna de Nova York, o MoMA. Espalhados ao redor, milhares de objetos organizados meticulosamente: pedaços de sabão usado, latas vazias, relógios parados no tempo, bonecas sem perna, tubos de pasta de dente vazios. No alto, uma inscrição em neon: "Pai, não se preocupe, nós e a mamãe estamos bem".

O criador da instalação é o artista plástico chinês Song Dong, que organizou tudo com a colaboração de sua mãe, Zhao Xiangyuan. A estrutura de madeira no centro da obra eram os alicerces da casa onde ela vivia. Os objetos ao redor foram acumulados por Zhao durante uma vida inteira e ficaram guardados em sua casa por décadas.

Ao expor o estilo de vida e os pertences da mãe dessa maneira, a instalação de Song Dong oferece um painel fascinante da história do seu país e um tributo à memória de gerações que lutaram contra a pobreza no período que se seguiu à Revolução Comunista na China. Estima-se que mais de 30 milhões de chineses morreram de fome na década de 50.

A instalação foi montada pela primeira vez na China em 2005 e foi vista na Europa antes de chegar a Nova York, onde permanecerá até o mês que vem. Seu título original, que pode ser traduzido para o português como "Não Desperdice", é uma referência à palavra de ordem adotada pelos comunistas para incentivar a população a enfrentar períodos de escassez de alimentos e outros produtos.

"Praticamente toda família chinesa viveu experiências semelhantes", disse Song Dong ao Valor. "Quando um chinês vê esses objetos, ele não os vê apenas como coisas. Eles trazem a essência de uma época. Eles são muito particulares e, ao mesmo tempo, universais."

Numa visita recente ao MoMA, o consultor Song Cheng, que deixou a China há vários anos para trabalhar na Alemanha, sorriu ao ver uma bacia com desenhos azuis e vermelhos. "Não havia banheiro em casa e eu usava uma bacia igual a essa para escovar os dentes e lavar o rosto", contou. Sua avó também guardava todo tipo de objeto em casa. Mas agora que ela tem 95 anos e perdeu a memória, os pais dele deram fim às sua coisas sem que ela pudesse reclamar.

Cada objeto na instalação de Song Dong tem uma história para contar. Sua mãe começou a guardar as barras de sabão usado na década de 60, quando o produto era racionado nas lojas do governo e cada pessoa só tinha direito a meia barra de sabão por mês. Num texto que acompanha a instalação, Zhao conta como transformou o simples ato de lavar roupas numa sofisticada operação doméstica.

Quando tudo o que restava eram pedacinhos de sabão velho, ela juntava tudo dentro de trapos de pano que eram usados até que o último grama de sabão derretesse. Durante anos ela guardou pedaços de sabão e barras usadas pensando em dar de presente para os filhos quando se casassem. "Nunca pensei que eles pudessem se tornar desnecessários, agora que todo mundo usa máquina de lavar", escreveu Zhao. Algumas barras de sabão usadas na instalação são mais velhas do que seu filho.

Zhao nasceu numa família abastada e mudou-se com os pais para Pequim na década de 40. Em 1953, seu pai foi injustamente acusado de espionagem pelos comunistas e acabou preso. Sua mãe teve de cuidar sozinha da família e morreu de câncer pouco depois que o marido saiu da prisão. A família caiu na pobreza e Zhao casou-se nessa época.

Os objetos que agora compõem a instalação de Song Dong foram acumuladas por sua mãe durante 50 anos. Seu hábito de guardar tudo o que entrava em casa se acentuou depois da perda do marido, que morreu de enfarte em 2003. Ela se agarrou a seus pertences como se isso pudesse assegurar que nada mais lhe seria roubado. Os conflitos para evitar que os filhos jogassem fora seus objetos se tornaram frequentes.

"Quando eu era pequeno, me sentia privilegiado de viver numa casa tão cheia de coisas", diz Song Dong. "Depois que nosso padrão de vida melhorou, essas coisas se tornaram um peso. Mas minha mãe continuava a pensar nesses objetos como se fossem um tesouro."

Ele conta que a ideia da instalação surgiu como uma maneira de libertar a mãe da dor causada pela morte repentina do pai. "Aqui ela é o artista e eu sou apenas seu assistente", afirma Song Dong no texto de apresentação da obra. "Organizar suas coisas e reconstruir a velha casa trouxe felicidade para sua vida." A mãe de Song Dong morreu neste ano, pouco depois da abertura da instalação em Nova York.

Num lance irônico, a instalação ocupa agora um espaço nobre no mesmo museu que abriga algumas das obras mais conhecidas de Andy Warhol, o artista que fez do consumismo americano um tema central de sua produção, e num momento histórico em que a economia americana atravessa uma crise profunda e a China se transformou numa das maiores potências econômicas do planeta.

A mãe de Song Dong sempre achou que não podia se desfazer de nada porque tudo o que tinha em casa um dia poderia ser útil novamente. Quando a instalação foi apresentada ao público pela primeira vez, ela fez questão de lembrar isso ao filho: "Guardar essas coisas foi útil, não foi?" Acumulado dia após dia ao longo de uma vida inteira, a coleção de objetos de Zhao enfim reluz.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Execráveis- parte 2

Raios! Eu fecho a cortina que dá para o lixo e o marido romeno cisma em abrir. Fechei. Ele abriu. Fechei novamente. Lá foi o cara.
- Por que? Está tudo aberto, a gente tem a vista maravilhosa das árvores. Mas ver lixo!!!
- Exatamente por isso.
- Pirou? Você fica o dia todo trabalhando no basement, só podia dar nisso..
- Shhh. Fala baixo. Lá vem ele....
- Ele quem? Vai dizer que tá vendo fantasmas..

E não é que o homem começou a andar pé ante pé , com uma vassoura na mão e de repente, abriu a porta e começou a dar pauladas na tampa do lixo. Vi um esquilo fugindo e o homem marido, meu marido carinos, correndo atrás do maldito e soltando palavrões. O bicho grudou a cara na janela, me encarou com um riso cínico, juro, será que também pirei, e fugiu feliz da vida.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Monstros


Antes de me mudar para cá, conversei com duas amigas brasileiras que já que já haviam passado pela experiência de morar em Washington. Elas me previniram:

- Esquilos!!! Fique longe. Aqueles ratos americanos.

- Exatamente- apoiou a outra. - Eles acabam com a roupa...

- Acabam com a vida da gente.

E estavam cobertas de razão.

Hoje, uma amiga mandou um e-mail sobre estes seres execráveis. Cada um de nós, seis ao todo, espalhados pelos recantos mais diversos da cidade, tinha alguma coisa para dizer sobre estes monstros. Eles estão por toda a parte, no subúrbio ou em DC. Não há saída.

- Gente eu acabei de ver um esquilo comendo um passarinho morto, tipo comendo pedacinhos da cabeça do passarinho...eles sempre foram assim sanguinários??

-Ao que consta, quem faz isso são os esquilos cinzas. Os marronzinhos eram mais pacatos.

- Esquilo são como ratos, ratos americanos!

-Eles são nojentos, não percebo como há gente que acha que são adoráveis.

- Acabo de ir lá fora conferir a lata de lixo. Migalhas e restos de comida espalhados ao redor do buraco que eles abriram na tampa da lata no último inverno. Pensei que tinham ido embora com a primavera. Estava errado. Eles voltaram, e estão com fome.

- Oonde será que eles se escondem durante o verão?

-Na floresta, no bosque, no mato. Onde havia nozes e comida de esquilo antes do aquecimento global começar.

-Talvez nao sejam os esquilos, mas sim os guaxinins, indubitavelmente uma espécie ainda mais predatoria...

-São todos comunistas. Não há diferenças.

-Eu me recordo bem do dia em que eu me deparei com um guaxinim. Eu tinha 7 anos, morava em Silver Spring. Ouvimos um barulho do lado de for a da cozinha, de alguem derrubando a lata de lixo que ficava no quintal dos fundos. Eu e minha mãe fomos pé ante pé até a cozinha e acendemos a luz e eis que vimos um guaxinim pego em flagrante comendo o nosso lixo. Ao nos ver, ele saiu correndo. Eu nunca me esqueço dessa cena.

- Eu tinha um amigo alemão que uma vez viu um esquilo a tentar estuprar uma esquilinha numa árvore no jardim dele. Ele foi separá-los com uma vassoura e o esquilo quase que o atacava. A esquila ficou a recuperar do susto durante uns minutos e depois sumiu.

- Tô falando, isso aí é bicho do demo.

- Há quem pense que não existe maldade na natureza, mas eu não sou um deles...

- São mesmo uns animais!

-Eu não me meto com esse povo, não, mas eu gosto bastante de elefantes e de ursos pandas. Se for para fechar com eles, aí tá beleza.

-Esquilos, ratos e pombas são sobreviventes como nós. Devíamos nos unir.

-Eu também voto nos pandas.

Agora, com sua licença carino, vou ali chispar um malditinho esquilo que está destruindo todas as flores na varanda...@#$$%%¨¨&&¨%$##&¨%