sábado, 29 de novembro de 2008

Narradores





Antigamente, quando livro não existia, eram os narradores anônimos que garantiram que as histórias sobrevivessem através das gerações. Velhos e crianças se reuniam em volta de fogueiras para ouvir e contar histórias.
“A arte de intercambiar experiências está em via de extinção”, chegou a dizer Walter Benjamin.
Ainda bem que sua previsão pessimista não vingou. Os blogs são prova viva que gente espalhada por este mundão continua dividindo as coisas que vêm, pensam e sentem.
Pois é carinos, tanta facilidade me deu uma mudez...

domingo, 23 de novembro de 2008

Sutileza da Língua

Sexta- feira tivemos um jantar de despedida com uns amigos que vão para a Àfrica. Scott contou das suas aulas de francês:
- Língua curiosa. Em inglês a gente diz que a irmã da nossa mulher é sister-in-law. - (irmã-por-lei) Tem que engolir a infeliz porque é a lei. Em francês é beau-frère, bela irmã. Veja a diferença.
- Parece um convite à safadeza...belo irmão, bela irmã, sei não...
- E em português?
- Em portugês o irmão do marido é cunhado, ou cuñado, em espanhol. Todo mundo faz a piada batida de que se cunhado(a) fosse bom, não começava com cu .

Pois é carino, sutilezas da língua.
Au revoir, good bye, adeus!

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Não Conte pra Ninguém



Yasuko ganhou o terceiro filho, Kouta, e alguns quilos desde de que aterrizou por aqui.
- Este dvd de Hip-Hop é muito bom. - contou- Agora posso fazer exercícios em casa.
- Não basta levantamento de Kouta? - perguntou Jenifer, a outra vizinha que também carregava sua bebê, bem mais pesada que o japonês. - A gente podia fazer levantamento de Kouta para iniciantes e de Lauren para os mais avançados, que tal?
- Posso ver?- pedi.
As duas me ofereceram seus bebês para eu carregar.
- Não os bebês, o vídeo.
Na capa do dvd, um sujeito negro musculoso.
- Pode levar pra experimentar, se você quiser.
Da janela de casa a gente via as últimas folhas das árvores caindo. Céu nublado, frio e nada pra fazer. Sofá para o canto, o muscoloso na tela e as meninas e eu na sala vazia.
O sujeito e mais uns cinco alunos sarados exibiam curvas e sorrisos. Provavelmente riam da gente seguindo seus passos.
Pior que a chegada do inverno é se submeter a este tipo de cena...tststs...não conta pra ninguém, combinado?
Talvez fosse melhor me juntar as velhinhas das aulas de hidroginástica- que Rosângela, nossa divertida vizinha brasileira, chama de aula de galinha depenando na piscina. "E não parece? Com aquelas toquinhas na cabeça, levanta e desce os braços, a água espirrando."

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Making-Of

Dois anos de América, mais um pela frente, com Obama oba, mas no meio de um furacão econômico. A saída, para aproveitar este tempo aqui e driblar a falta de grana, foi brincar de jornalista. Minha primeira matéria foi publicada no caderno EU& do Jornal Valor Econômico, e o making- of vou contar aqui, no blog.
A Superintendente de ensino de Washington ia dar uma conferência aberta para jornalistas. Meus amigos garantiram que era só eu aparecer lá, entrar e assistir. Descolei um bloquinho, uma caneta, que nunca tenho na bolsa, gravador, máquina fotográfica, tudo pra ficar bem parecida com uma profissional da mídia.
Tinha pouca gente. Pessoas almoçando e outras sentadas num banco no fundo, "lugar dos jornalistas", foi a dica que me deram. Ao meu lado uma fotógrafa alemã e uma jornalista francesa.
- Quase fui trabalhar no Brasil. Mas fiquei com medo. Um amigo estava no Rio, fotografando, a trabalho, e um moleque passou correndo e levou tudo.
Logo um sujeito de terno veio em nossa direção e se dirigiu pra mim:
- Seu documento, por favor.
- Claro.- respondi abrindo a bolsa que é aquela bagunça. - Aqui está.
- Não este. Preciso da sua carteira de jornalista.
- Veja bem meu caro, sou uma jornalista free-lancer...
- Ótimo. Mas cadê seu documento?
Cadê???? Cadê meus amigos, malditos, que me mandaram para a boca do leão? “Vai, imagina, não tem o menor problema que você não é jornalista”. Bandidos eles, mas quem foi pêga fui eu. Saí da sala, de cabeça erguida, fingindo um tom blasé.
Devo ter cara de jornaleira, não de jornalista. Que raiva!
Dois dias depois, refeita, peguei todos os apetrechos novamente e fui para minha primeira entrevista com um diretor de escola. Imprimi um mapa com as diretrizes para chegar no endereço. Lá pelas tantas, cheguei na tal rua. "Vá para oeste." Quem disse que sei para onde é leste, sul, norte e oeste! Nestas horas lembro que prometi nunca mais sair sem bússola nesta terra. Mais uma promessa não cumprida.
- Meu senhor, por gentileza, oeste é para que lado mesmo?
O sujeito indicou a direção com uma facilidade invejável. Cheguei.
- Bom dia. Por favor, Mister Eatman....
- Quem?
- O diretor da escola.
- Escola???...o endereço é este, o número tá correto. Mas minha filha, você veio para o lado leste, tem que voltar tudo....
Chovia muito. Enfim achei o lugar. E não é que o homem tinha tido um “problema de família”e infelizmente “não veio trabalhar hoje.”
Sabe o que meus amigos do ramo falaram para me consolar:
“Bem vinda.“

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Objeto de Desejo


Quando o i-phone foi lançado há um ano, gente faminta por novidades formou filas de dar nó em frente as lojas. Pois dia 5, o motivo da muvuca era outro. O objeto de desejo das pessoas era algo antigo e de material ordinário: jornal. Tablóides da edição comemorativa com o novo presidente dos Estados Unido na primeira página: Barack Obama.
Até hoje temos guardado os jornais do dia em que nossas filhas nasceram. Meu pai, sempre que a gente viajava, pedia jornais como souvenir. Mas hoje, numa época em que blogs e internet ameaçam tirar o terreno dos jornais, milhares de cópias extras foram impressas para dar conta da procura. As pessoas estavam alí, no centro de Washington, gastando o tempo de almoço, pagando três vezes o valor de praxe, só para garantir um pedaço concreto de historia.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Eu Votei

Não tenho cidadania americana nem título de eleitor, menos ainda vergonha na cara. Foi assim que apareci numa sala de votação pedindo para ver como funcionava o processo eleitoral dos Estados Unidos.
Diferente do que ocorre no Brasil, onde as autoridades enviam cartas convocando os cidadãos a trabalhar como mesários nas eleições, aqui o pessoal vai porque quer. Várias mulheres e senhores na casa dos 60 anos estavam lá voluntariano desde às 6 da manhã e só iriam embora às 8 da noite. Fui recebida com cordialidade por uma mulher que me levou para conhecer a urna : “Muita gente disse que prefere votar no papel, pois assim fica um registro palpável com o nome deles na cédula. Eles acham que o voto eletrônico é menos confiável.“
A maior potência do planeta votava até há pouco tempo em cédulas!
O voto é opcional e ocorre num dia de trabalho normal. Como todo mundo quer votar antes ou depois que terminam o batente, longas filas se formam nos horários do começo da manhã e no final do dia.
O resto do tempo a sala fica praticamente vazia.
Antes de ir embora, ganhei uma cópia da cédula e um adesivo que grudei na minha camiseta:
” I Voted, Yo Vote”, assim mesmo, nas duas línguas.
Na saída havia um casal com uma barraquinha cheia de cartazes do Obama. Parei, tirei uma foto ao lado deles, e fui tomar um café no Starbucks.
- Quanto?
- Nada.
- Como assim?
- Todo mundo que votou ganha café de graça.
Hehe, por conta do meu adesivo de "Eu Votei" ganhei um café que tomei com gostinho de
“participei de uma eleição histórica.”