domingo, 25 de maio de 2008

Cupido



Sexta- feira as meninas trouxeram amigas pra casa. A mãe de uma das crianças e o pai da outra chegaram quase juntos para buscar as crias. Por coincidência os dois são separados e resolvi brincar de cupido. Convidei-os para entrar e tomamos um vinho juntos. As meninas estavam entretidas com uma argila natural recém descoberta no parque e comemoraram o tempo extra para acabar de fazer aquela meleca que elas chamam de obra de arte. Além disto, convenceram os pais que só iriam depois que jantassem aqui. As duas meninas gêmeas de cinco anos que chegaram com a mãe para buscar a irmã, jogaram os sapatos para o alto e se juntaram às outras. Elogiei as gêmeas:
- Quer levar? - a mãe logo ofereceu.
O pai, imigrante europeu, com um corte de cabelo todo estiloso, saboreava o vinho. Ele gosta de cozinhar, ela diz que nem o cachorro engole sua comida. Ele olhava com certo desdém a americana com roupas desleixadas, unhas com esmalte descascado e cabelo preso num lápis no alto da cabeça. Definitivamente ela não fazia o tipo dele. E nem ele o dela.
Depois do terceiro copo de vinho, a mulher levantou e proclamou que o namorado mais “caliente” que teve em toda sua vida era brasileiro. Ela acha que o sujeito que mora aqui em casa é “romeno”, por algum motivo. Ainda bem. Tentei lembrar de nossos amigos brasileiros, todos barrigudos e começando a ficar carecas. Definitivamente, nenhum parece estar perto do ideal que a mulher descreveu...

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Espia

Quatro senhoras caminham lado a lado na estrada de terra entre árvores e flores. São nove horas da manhã. As quatro usam chapéus, mas de modelos e cores diferentes. Duas também usam um colar de pérolas. Uma delas, a mais baixinha, passou batom . A outra caminha balançando o corpo de um lado para o outro , feito pinguim. Todas andam com os braços para trás e as mãos cruzadas nas costas. O grupo pára para escutar o que uma delas está dizendo. Riem e voltam a caminhar. Encontram um banco. Põem as mãos nos quadris e vão se aproximando do banco até soltar o corpo ali. As quatro senhoras agora estão quietas. Passo andando e duas delas me acompanham com a cabeça. Elas voltam a olhar para frente e eu as espio até trombar com Louis Armstrong que canta What a Wonderful World em meu ouvido:

I see trees of green, red roses too.
I see them bloom, for me and you.
And I think to myself... what a wonderful world.
I see skies of blue, and clouds of white.
The bright blessed day, the dark sacred night
And I think to myself, what a wonderful world...

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Maiô Islâmico


A primavera levou embora os casacões, escancarando corpos que o inverno alimentou durante praticamente seis meses.

No final de maio as piscinas estarão abertas novamente. Depois de dois verões carregando a bandeira do biquini e da mulher brasileira em primeiro lugar, amarelei. Desisti de caber a todo custo dentro do biquini, e decidi ir atrás de um biquini que caiba em mim, como dizem por aqui.

Fui com uma amiga americana à loja de maiôs para me ajudar a escolher algo mais apropriado.

- Que bacana, eles vendem roupas também.

- Dri, são maiôs!!!

- Claro, logo vi...

Pegamos um monte deles e fomos ao provador. Espelhos imensos me encaravam para a prova dos nove. Era eu e eles ali. Ignorei o infeliz do reflexo e mergulhei de vez sem prender a respiração. Sem frescura provei o primeiro biquini. Meus amigos...coisa esquisita.

- E aí, ficou bom?

- Parece que estou de fralda, é muito estranho este treco.

- Tá ótimo.- disse minha amiga- o meu tá pequeno demais.

- Pequeno????

É meus caros, mais uns invernos por aqui e acabo dentro de um maiô em estilo Islâmico.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Tesourão

- Vem logo manhê!

Tranquei a porta de casa e caminhei até o carro carregando uma tesoura de jardim quase do meu tamanho. (o que não quer dizer muita coisa)

- Mãe, que é isto?
- E por quê este sorriso estranho Dri?
- Vocês verão!

Depois do almoço, no caminho de volta pra casa, pedi para parar o carro. Peguei o tesourão e contei:

- Bem ali, no meio do matagal, tem uma fartura de azaléias. Elas estão vermelhas, não pertencem a ninguém e toda vez que passo por aqui fico tentada a roub... quer dizer, colher...

Jú soltou o cinto de segurança , sentou no chão do carro e cobriu a cabeça. Laura, atrás daqueles olhos que me encaravam, tentou me apoiar:

- Que que tem, né? Olha mãe, só não vou junto com você porque ...porque...

Desci do carro com o tesourão na mão e atravessei a rua decidida.
Cheguei em casa carregada de flores:

- Nossa que lindas!- comentou a vizinha. Logo emendou desconfiada- onde você conseguiu?

Com as azaléias numa mão e o tesourão na outra, respondi:

- Ganhei de uma amiga. Lindas, não?

É minha gente, a primavera por aqui é simplesmente irresistível...