sábado, 17 de fevereiro de 2007

Aula de inglês

Arthur, era este o nome do personagem que aparecia em todos os capítulos no meu livro de inglês do ginásio. Ruivo, branco, mirrado e atrapalhado. Muito atrapalhado. Pois não é que saiu do livro e agora é meu professor? Cara de um, fucinho de outro!
Um dos sujeitos mais tímidos que conheci. Só que seu ofício exige que passe quatro horas de pé em frente de nosso grupo. O livro que ele usa está carcomido, as páginas caindo. E as canetas de lousa, umas seis. Toda vez que ele tenta escrever, abre uma, vê que não funciona. Fecha. Abre a outra. Tenta. Necas de funcionar. Fecha. Pega outra. Dias, semanas e inúmeras tentativas depois, um colega sugeriu que ele pegasse novas canetas e novo livro com a secretaria. Não é que resolveu!
Mas seu talento para atrapalhadas resiste. Há uma mesa em que ele coloca seu material, e ao lado dela um lixinho. Inúmeras vezes, no meio de suas explicações, o sujeito consegue enfiar o pé e metade da perna que ali fica, entalada. Ele “discretamente”, sob o olhar de todos nós, balança a perna tentando se desvencilhar do lixo, enquanto continua dando sua aula como se tudo fosse absolutamente normal, certo?
Nossa turma é composta por dez alunos. Quatro coreanos, dois de Taiwan, dois poloneses, uma africana, e esta brasileira aqui.
Todos os orientais usam palmtop. Quando eles não entendem algo, tentam se ajudar. Um em cada canto da sala, falando na sua língua, alto. Os ploloneses e os de Taiwan idem, só que um pouco mais discretos. Como o professor é este ser que comentei acima, a Ásia e a Europa se instalam alí, enquanto nós apenas observamos aquela melodia de idiomas.
Do meu lado costuma sentar um dos coreanos. No primeiro dia de aula fui comer um chiclete, e ofereci para ele. O rapaz ria de alegria. Pegou toda a caixa para si, enfiou no bolso antes que eu tivesse chance de pegar ao menos um. Abaixava e levantava a cabeça enquanto dizia palavras que provavelmente significavam:

“Obligado, obligado.”

Retribui com um sorriso besta e não tive coragem de reivindicar meu chiclete de volta.
No intervalo, meu colega de Taiwan, que chama-se F, sim, a letra do alfabeto, apresentou-me à sua amiga de outra turma. Ela sacou um porta-moedas embrulhado para presente de sua bolsa e me deu. Agradeci .
No final da aula, o coreano rindo e balançando novamente a cabeça, entrega-me um pacote de salgadinho. Era uma retribuição ao presente que eu havia lhe “oferecido.”-
Bem, acho que na cultura deles é praxe presentear as pessoas novas que conhecem. Porque ninguém me avisou antes?
Pois é. Inglês, aprendi quase nada.
Mas vocês nem imaginam como meu coreano melhorou!

4 comentários:

Tullius Detritus disse...

Esse sujeito do chiclete não me engana. É o golpe mais conhecido na Coréia. Se aparecer na minha frente ele vai ver só.

Catherine disse...

Esse comentario eh para o Ricardo: pare de exercer seu machismo tipico de nossa terrinha e va preparar uma caipirinha para Adriana. Voce prometeu, lembra?

Tullius Detritus disse...

Prometi e cumpri. Já fiz várias.

Unknown disse...

Dei muita risada com esse Dri...