Há 14 anos
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
Êta Mundo Cão!
Um grupo de crianças aguardava os competidores da corrida cruzarem a linha de chegada.
- É o Rich. Aiai- comentou a mulher ao meu lado, ao ver seu segundo marido aparecer vestido numa fantasia de cão.- A Sami não queria que ele fizesse isso.- disse e saiu de fininho.
Rich não era o vencedor. Longe disso.
O homem estava lá fantasiado para apresentar a corrida de cachorros que viria a seguir.
Sami, uma menina ruiva, filha da mulher e enteada de Rich, ficou muda ao ver se aproximar o homem-cão. Ela se escondeu entre as crianças, mas o sujeito continuava a se aproximar, meio corcunda, balançando os braços e determinado a fazer graça. Sami permaneceu muda enquanto as crianças tentavam desvendar quem estava atrás da máscara. A menina, temendo que descobrissem seu patético padrasto sob a pele do cão, anunciou saindo de seu esconderijo:
- É o Rich.
- Rich, Rich- diziam as crianças tentando arrancar a fantasia do homem, dando chutes em sua bunda e croques na sua cabeça.
Nisso um negro atlético cruzou a linha de chegada, correu para o abraço e tirou fotos comemorando a vitória sobre os concorrentes. As crianças abandonaram Rich vestido de cão e foram atrás do vencedor.
Sobraram os cães que se preparavam para a corrida. Um cão latiu, outro levantou a pata para mijar e um deles lambeu a mão de Rich, o cão homem.
Ninguém comemorou ou tirou fotos ao lado de Rich. A cabeça que ele vestia tinha aquele sorriso estático enquanto seus braços balançavam sem parar. Assim, sob a máscara de cão, ninguém soube de fato se o homem ria ou chorava enquanto esteve lá.
Êta mundo cão!
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9 comentários:
típico loser americano, não.
Mundo cão, mas sempre relatado por você sob uma ótica sensível e bem humorada.
abraço
Marina
Looser, não, Anônimo: sobrevivente. Um herói. Que bom que a Adriana viu isso.
Quem disse que é fácil ganhar a vida?! E lidar com a rejeição sincera da criança, e com as "maldades" que são aceitas com os mascotes... êta mundo cão mesmo!
Adriana, ao menos estava frio? Pois vestir essas fantasias no calor do Brasil é o fim...
Rosangela, concorde ou não, o cara é o retrato do looser e na cultura americana.
Obrigada Marina!!
Rosangela, aqui a cultura do "loser" é forte. Outro dia me contaram que um pai brincando de bola com o filho que estava exausto, disse para o menino:"Vc quer ser um loser ou o quê, vamos lá?"
Pois é Tati. Bom encontrar seu comentário novamente por aqui.
Laura, e nem estava frio...
bjs
dri
Adriana, caros comentadores,
ok,ok...rs... Acho que estamos falando quase a mesma coisa. Pra não atolar esta caixa, desdobrei o assunto no meu blog (http://oquiproquo.blogspot.com/2009/09/o-camelo-e-o-amendoim-para-nao-atolar.html), em que também remeto à crônica "Eta Mundo cão!" Caso interessar...
Bjs,
Rô
lembrei de uma citação do Italo Calvino com o comentário da Rosangela:
“A realidade do mundo se apresenta a nossos olhos múltipla, espinhosa, com estratos densamente sobrepostos. Como uma alcachofra. O que conta para nós na obra literária é a possibilidade de continuar a desfolhá-la como uma alcachofra infinita, descobrindo dimensões de leitura sempre novas“.
bj
mas o cara precisava se vestir de cachorro ou fez so pra fazer graça' sem graça alias.
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