segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Making-Of

Dois anos de América, mais um pela frente, com Obama oba, mas no meio de um furacão econômico. A saída, para aproveitar este tempo aqui e driblar a falta de grana, foi brincar de jornalista. Minha primeira matéria foi publicada no caderno EU& do Jornal Valor Econômico, e o making- of vou contar aqui, no blog.
A Superintendente de ensino de Washington ia dar uma conferência aberta para jornalistas. Meus amigos garantiram que era só eu aparecer lá, entrar e assistir. Descolei um bloquinho, uma caneta, que nunca tenho na bolsa, gravador, máquina fotográfica, tudo pra ficar bem parecida com uma profissional da mídia.
Tinha pouca gente. Pessoas almoçando e outras sentadas num banco no fundo, "lugar dos jornalistas", foi a dica que me deram. Ao meu lado uma fotógrafa alemã e uma jornalista francesa.
- Quase fui trabalhar no Brasil. Mas fiquei com medo. Um amigo estava no Rio, fotografando, a trabalho, e um moleque passou correndo e levou tudo.
Logo um sujeito de terno veio em nossa direção e se dirigiu pra mim:
- Seu documento, por favor.
- Claro.- respondi abrindo a bolsa que é aquela bagunça. - Aqui está.
- Não este. Preciso da sua carteira de jornalista.
- Veja bem meu caro, sou uma jornalista free-lancer...
- Ótimo. Mas cadê seu documento?
Cadê???? Cadê meus amigos, malditos, que me mandaram para a boca do leão? “Vai, imagina, não tem o menor problema que você não é jornalista”. Bandidos eles, mas quem foi pêga fui eu. Saí da sala, de cabeça erguida, fingindo um tom blasé.
Devo ter cara de jornaleira, não de jornalista. Que raiva!
Dois dias depois, refeita, peguei todos os apetrechos novamente e fui para minha primeira entrevista com um diretor de escola. Imprimi um mapa com as diretrizes para chegar no endereço. Lá pelas tantas, cheguei na tal rua. "Vá para oeste." Quem disse que sei para onde é leste, sul, norte e oeste! Nestas horas lembro que prometi nunca mais sair sem bússola nesta terra. Mais uma promessa não cumprida.
- Meu senhor, por gentileza, oeste é para que lado mesmo?
O sujeito indicou a direção com uma facilidade invejável. Cheguei.
- Bom dia. Por favor, Mister Eatman....
- Quem?
- O diretor da escola.
- Escola???...o endereço é este, o número tá correto. Mas minha filha, você veio para o lado leste, tem que voltar tudo....
Chovia muito. Enfim achei o lugar. E não é que o homem tinha tido um “problema de família”e infelizmente “não veio trabalhar hoje.”
Sabe o que meus amigos do ramo falaram para me consolar:
“Bem vinda.“

6 comentários:

Anônimo disse...

Adriana, muitooo bem vinda! A matéria ficou excelente!

Rosangela disse...

Ainda não li a matéria mas pela criatividade e elegância das crônicas postadas aqui estou com uma expectativa só comparável àquela que a população mundial está nutrindo por Obama (rs...).

Beijos,
Rosangela Cavalcanti

Anônimo disse...

Cadªe o artigo, que dia saiu, quero ler tamb+em.
Bjs
Marina

Adriana Abujamra disse...

Rosangela, vc não existe!!!
E não é que o Barack vai morar aqui do lado, na Casa Branca, praticamente nosso vizinho!(rs...)

Marina, a matéria saiu dia 7, última sexta-feira, no suplemento EU& do Valor Econômico. Tenta ler por aqui- http://www.valoronline.com.br/ValorImpresso/MateriaImpresso.aspx?tit=Bons%20meninos%20v%c3%a3o%20para%20o%20banco&dtMateria=07/11/2008&codMateria=5252584&codCategoria=92

bjs
AA

Unknown disse...

não é justo! eu tmb quero estudar nas escolas de dc e ganhar $200 por mês!!

Anônimo disse...

e o obama, vai colocar as filhas nas péssimas escolas de dc? náo sabia que eram táo ruins. parabéns pela matéria, muito boa mesmo!