A máquina de lavar roupas gritou ardido como sempre- PIIIIIIIIIIIIIIIIIII!- anunciando o fim de seu trabalho e o recomeço do meu. Lá fui eu para o "Ensaboa mulata, ensaboa". Era hora de arremessar as roupas da máquina de lavar para a máquina de secar, que fica ao lado. Abri a porta da máquina e encontrei , sentada dentro da máquina no meio das roupas, minha sogra. Sim, dentro da máquina tinha uma sogra. Veja bem, como se fosse muito natural estar ali, ela desembestou a falar, dando todo tipo de dica doméstica. Abandonei-a falando sozinha e fechei a porta da máquina. Ainda ouvindo sua voz ao fundo, cada vez mais fraca, abri os olhos.
Ufa. Mas as roupas se acumulando no cesto não eram sonho. Eram bem reais, não havia a menor chance de fugir delas. Mas antes, preguei na parede uma gravura que comprei por aqui. Tem o retrato de uma mulher de perfil, arrumada e olhando para o observador. Ao lado, os dizeres: "Domestically disabled".
Enquanto eu ouvia música no i-pod tentando transformar o momento ensaboa numa lúdica aula de dança, lembrei de uma amiga brasileira que mora por aqui há uns três anos. Ela queixava-se de saudade da terrinha. Do que ela mais sentia falta? "Empregada, né!"
Ufa. Mas as roupas se acumulando no cesto não eram sonho. Eram bem reais, não havia a menor chance de fugir delas. Mas antes, preguei na parede uma gravura que comprei por aqui. Tem o retrato de uma mulher de perfil, arrumada e olhando para o observador. Ao lado, os dizeres: "Domestically disabled".
Enquanto eu ouvia música no i-pod tentando transformar o momento ensaboa numa lúdica aula de dança, lembrei de uma amiga brasileira que mora por aqui há uns três anos. Ela queixava-se de saudade da terrinha. Do que ela mais sentia falta? "Empregada, né!"
Outra amiga contou que no tempo em que morou aqui jogou muita roupa no lixo. "É mais fácil e sai mais barato ." Encardiu, lixo.
E a adolescente que veio fazer intercambio! Quando soube que teria que se responsabilizar pelas roupas uma vez por semana, ligou chorando para os pais:"Esta família quer me escravizar! Preciso ir embora. É urgente. Manhêêê!"
O fato é que a sociedade americana tem um aparato gigantesco para ajudar as famílias a lidarem com as tarefas chatas, pois a maioria esmagadora dos americanos vive sem ter quem faça o trabalho de casa para eles. Aqui não se usa ferro, a roupa sai prontinha da máquina. Camisa? Manda para a lavanderia. Alho vem picado, cebola idem, salada lavada e por aí vai. Todos os supermercados funcionam também como restaurante por quilo. O pessoal se serve e come por lá mesmo. Come-se muito congelado e nheca para salvar tempo. Mal comecei a elaborar as causas da obesidade americana, quando uma amiga inglesa desmontou toda minha teoria. Na Inglaterra, ela contou, mesmo as famílias se virando sem empregada, ninguém abre mão de comer bem e obesidade não é um problema na terra de rainhas e princesas.
No fim de semana é comum as crianças ajudarem a tirar as folhas do outono caídas no quintal, enquanto os pais encaram o dia da faxina.
Quem prestar atenção aos seriados americanos, poderá ver Carmela, mulher do carismático e poderoso mafioso Toni Soprano, cozinhando e correndo cuidar da roupa quando a máquina apita.
É meus caros, nem tudo é glamour na terra do tio Sam
Ensaboa mulata, ensaboa
Ensaboa
Tô ensaboando...