No ponto esperarando as meninas voltarem da escola, conversávamos sobre o massacre na Virgínia. A identidade do atirador ainda era desconhecida. Um dos pais que estava lá brincou:
“Parece que o cara era brasileiro. Hahaha.”
Tão engraçado que minha boca não mexeu nem naquele: “Rir para não morder.”
Coincidentemente, no mesmo dia, o Brasil estava na capa do jornal Washington Post. Uma imensa foto de um menino ilustrava a matéria sobre a violência nas favelas.
“Pois é, meu caro”, respondi. “O Brasil tem milhões de problemas para resolver. Mas este tipo de coisa, sujeito entrar matando a rodo em escolas, é típico daqui, não? Nos Estados Unidos tem bala mirada, no Brasil a gente sofre é de bala perdida.”
Ao lado, as três babás estavam a sofrer, em espanhol, de terra perdida:
“Podría vivir aquí toda mi vida, pero nunca, nunca podría parar a faltar mi país y el almuerzo de la família.”
“Oh, Chinita”, emendava a segunda, lamentando a falta do gosto de mamão papaya e da maneira de falar de sua gente.
Já Olguita, a terceira das mulheres, de tanta falta que sentia, nada falou. Mas enxugando o canto do olho, concordou com tudo. Colocou a mão no ombro da amiga e balançou a cabeça na cumplicidade de quem se reconhece como imigrante.
Acabei, eu também, perdida nas lembranças do meu país.
Há 14 anos