domingo, 24 de janeiro de 2010

Hora de Ir




Viajando como mochileira pela Europa há mais de vinte anos atrás, acabei seduzida pela Itália e os amigos que conheci por lá. No dia de ir embora, estava muito frio. Ticiano e Fiorella nos acompanharam até a barca que atravessaria os canais de Veneza. Trocamos abraços muito demorados. Perto de entrar na barca, ouvi Fiorella me chamar . Voltei e vi minha amiga correndo de volta. Tirou do pescoço um lenço verde de seda que usava diariamente. Enrolou-o em volta de meu pescoço. Aquele pedaço de pano era um pouquinho ela. Guardo-o até hoje. E coincidentemente era ele que esquentava meu pescoço no dia de nossa despedida nos Estados Unidos.
Minha amiga Americana apareceu para se despedir. Tirou de sua bolsa um pequeno embrulho e me entregou. Eram os brincos brancos que ela usava com frequência:

- Quando voce usar, vai lembrar de mim.

Vesti os brincos, usando ainda a echarpe verde da amiga Italiana que nunca mais revi.

Nossa casa estava cheia de amigos que tinham aparecido para se despedir. Minha vizinha tentou colocar no bagageiro do carro um colchão de casal que demos para ela. Nao coube. A saída foi levar na capota do carro, cheio de neve. Com uma mão ela segurava o colchão, com a outra a direção. Da janela disse:

- Até amanhã.

Hora de partir.

Amigas de La Pimenta a carregavam no colo e choravam.

La Cotoneta foi num carro ocupado por mais quatro amigas. Uma turca, outra alemã, a terceira koreana, uma americana e La Cotô, brasileira, ou todas americanas depois de tanto tempo por lá?

O caminho até o aeroporto foi de música, abraços e choro.

A sinfonia de fungos aumentava a medida que chegávamos mais perto. No saguão do aeroporto, as cinco amigas se abraçaram numa roda. Uma moça parou para observar. Um senhor veio me contar que tinha passado pela mesma situação quando era mais jovem e teve que se despedir dos amigos em seu país de origem. Uma menina puxou a mãe para que pudesse observar a cena. Outra tirou fotos.

Hora de ir.

As meninas puxaram La Cotô, ofereceram suas casas para que ela morasse e juraram amizade eterna. Não foi fácil atreavessar aquele portão.

2010 supimpa para todos.
Adriana.

10 comentários:

Taís disse...

Adriana, quase chorei!!

Unknown disse...

Despedidas...são difíceis e inesquecíveis.

Paulo disse...

Bela experiência vocês tiveram. Boa sorte pra todos.

Anônimo disse...

Bacana!

Tati disse...

Quem nunca passou por isso!? Morei 7 anos na praia e quando a vida chamou tive que voltar pra SP... Foi duro e até hoje guardo lembranças da despedida. Espero que as meninas estejam mais adaptadas depois de 30 longos dias por aqui! Bjos

Adriana Abujamra disse...

Taís, eu chorei lá...
Laura, é isso mesmo,
Paulo, obrigada!
Tati, vc morou na praia? Onde?
bj
Adriana

Débora Martins disse...

Dricó, o que sei é que é bom ter vocês de volta aqui. Beijos, Dé

Tati disse...

Oi Adri, então morei 7 anos em Peruibe, no litoral sul... Voltei pra SP qdo tive que fazer faculdade. Deixei pra tras todos os amigos de adolescencia e muitas histórias boas. Mudar foi duro, fique 3 meses sem sair de casa aqui, mas aos poucos acostumei... Um beijo e conte sempre das meninas e de vcs tbm!

Fernanda disse...

Adriana, eu to chorando muito com esse seu post! Como eh dificil dizer tchau, nao? Boa sorte nessa nova empreitada, a volta eh super dura (eu jah fui e jah voltei. HA!), mas tente aproveitar o que tem de bom lá e guardar o que tem de bom aqui.
Take care.

Adriana Abujamra disse...

Dé, vcs são a parte boa da cidade!

Tati, bom saber de suas experiêcias, consola...

Fernanda, super obrigada,
bjs
Adriana