A cultura do voluntariado aqui é forte. Para você ter uma idéia, chegam ao cúmulo de propor que trabalho voluntário seja obrigatório. Melhor mudar de nome, né? Vai pleitear o primeiro emprego? Além do diploma é bom mostrar que você ajudou gratuitamente a comunidade. O negócio começa cedo. As crianças são convidadas a arrecadar dinheiro para diferentes causas. Mas por trás da atitude louvável, há a professora prometendo prêmios para os pequenos se sua classe conseguir cifras melhores. A gurizada, confusa, esquece a que veio e passa a disputar míseras moedas no tapa. Outro dia pegaram uma adolescente no pulo. A falsária arrecadava um dinheirão para causas nobres e embolsava a bolada em causa própria.
Inúmeras vezes fui requisitada para voluntariar na escola em que as meninas estudam. Fugi o quanto deu. Até que uma das patrulhas do voluntariado- que é nossa vizinha de condomínio- me pegou na marra. Não apareci nas tais reuniões em que treinam os voluntários, mas fui lá para "ajudar no que for preciso".
-Tirar xerox.
-Xerox?
- Sim. Com folha furada.
- Que furada.
- Xerox sem folha furada também.
A sala de xerox estava lotada. A máquina era um troço moderno imenso. Milhões de botões. Assim que a sala esvaziou um pouco, e só estava uma outra mãe ali, pedi ajuda. A mulher olhou pra minha cara e para as pilhas de papéis que tínhamos na mão:
-Hehehe. Eu não faço a menor idéia de como isso funciona.- ela confessou-pensei que vc fosse me ajudar.
Depois de quase quebrar a máquina, desperdiçar montes de papéis, saímos de lá com o trabalho feito. E correndo, claro.