Há 14 anos
domingo, 14 de outubro de 2007
Halloween
Outubro por aqui é todo laranja, das folhas das árvores do outono às aboboras do Halloween. Para contribuir com a coloração da cidade e entrar no clima do Halloween, compramos duas abóboras . Depois, seguindo as instruções de um kit que vem com folhetos explicativos e várias ferramentas para ajudar, as meninas fizeram caras nas abóboras. Muitas cavocadas depois e uma completa "inhaca" pelo caminho, colocamos as abóboras em frente da nossa casa, com velas acesas dentro. A maravilha durou pouco. No quinto dia as caretas ficaram realmente assustadoras. Mosquitos nojentos passaram a habitar e a se alimentar das abóboras. Tivemos que jogá-las no lixo.
Assim que voltamos para casa e trancamos a porta a campanhia tocou. Mas não tinha ninguém. Provavelmente eram só os espíritos das abóboras revoltados com o fim precoce que demos à elas. Mas as crianças viram um pequeno embrulho no chão. Eram dois pacotinhos cheios de guloseimas e uma carta que começava com "Halloween Phantom Ghost". Em seguida explicava o que as meninas deveriam fazer:
1.Pregue esta carta em um lugar visível para que todos vejam que o fantasma já passou por aqui.
2. Faça duas cópias da carta e prepare dois pacotinhos de guloseimas.
3. Escolha dois amigos e deixe a carta e o pacote para eles.
4. Aja à noite, no escuro. Você não pode ser visto. Toque a campanhia e corra .
5. Você só tem um dia para agir, seja rapido.
Vestidas de preto e perucas compradas para o halloween, as meninas saíram para agir no escuro. Andavam nas pontas dos pés. As folhas secas caídas das árvores faziam um barulho alto e cracolento. A primeira casa foi a de Alexandro, um menino americano de 12 anos, que adora futebol e tem várias camisetas do time brasileiro. A segunda foi a de Cath, a menina de Taiwan. Cinco degrais separavam a calçada da campanhia:
- Blim-blom.- (sei lá como é o som de campainha em inglês!)
Mal Laurinha deu as costas para fugir, o barulho da porta abrindo fez a garota dar um pinote e se esconder com a irmã atrás da árvore. Viram Cath e o pai olhando para os lados a procura de quem teria deixado o pacote ali, mas não viram ninguém.
Hoje a carta de "Phantom Ghost" já estampa a frente de todas as casas em que moram crianças.
Faltam 10 dias para a festa de Halloween.
terça-feira, 9 de outubro de 2007
Vai de carro ou de coleira?
- O povo aqui é doidinho por cachorros - dizia a brasileira que limpa nossa casa uma vez por semana - Sabe o que eu vi outro dia? Um cachorro passeando dentro de um carrinho de nenê.
Limpou mais uma vez a janela e continuou:
- Êta mundo esquisito.
Mas sejamos justos, pensei, este tipo de veneração com os cães não é um traço de personalidade apenas dos americanos.
No dia seguinte, estava eu andando, quando vi uma mãe passeando com o filho na coleira. A coleira não prendia no pescoço do moleque, ficava nas costas, como uma mochila com carinha de bicho de pelúcia. Dava até uma certa liberdade para o garoto, que curioso de mundo nos seus prováveis dois anos, tentava correr e pegar tudo. A mãe conversava com uma amiga. A amiga carregava um cão branco e penteado, tão penteado que seus pelos estavam mais em ordem que meus cabelos. A conversa das mulheres parecia boa, pois a mãe da criança nem olhava para o filho, apenas puxava a coleira de vez em quando para brecar seu pirralho de estimação.
Voltando aos cães: Um casal de amigos resolveu comprar um cachorro. Assim que começaram a conviver os dois perceberam que três era de mais: O cão estragava as roupas, latia muito e era carente. Chamaram, então, um profissional para ajudar a educar o cachorro. Depois de meses de trabalho, e zero de mudança, o casal decidiu:
- Ao inferno com este bicho. Não o queremos mais.
O treinador contratado por eles acabou ficando com o cão, de pura pena.
Hoje o casal de amigos tem um filho. Embora o pequeno também dê trabalho, como todas as crianças do mundo- eles não querem devolvê-lo.
Mas tem gente que devolve filho. Há uns cinco anos atrás, um adolescente aqui nos EUA foi pego com drogas. O moleque era brasileiro, adotado por uma família americana desde criança. A lei local diz que se fez coisa errada, que seja devolvido para seu país de origem. Sem falar português e sem conhecer ninguém por lá, o moleque foi deportado para o Brasil.
Imagine se a moda pega: Seu filho fez chilique hoje? Devolve. Bateu no irmão? Devolve.
Falar em devolver, preciso parar agora de escrever. O pessoal do correio está na porta. Vou despachar minhas filhas para o Brasil e colocar uns cães no lugar...
Limpou mais uma vez a janela e continuou:
- Êta mundo esquisito.
Mas sejamos justos, pensei, este tipo de veneração com os cães não é um traço de personalidade apenas dos americanos.
No dia seguinte, estava eu andando, quando vi uma mãe passeando com o filho na coleira. A coleira não prendia no pescoço do moleque, ficava nas costas, como uma mochila com carinha de bicho de pelúcia. Dava até uma certa liberdade para o garoto, que curioso de mundo nos seus prováveis dois anos, tentava correr e pegar tudo. A mãe conversava com uma amiga. A amiga carregava um cão branco e penteado, tão penteado que seus pelos estavam mais em ordem que meus cabelos. A conversa das mulheres parecia boa, pois a mãe da criança nem olhava para o filho, apenas puxava a coleira de vez em quando para brecar seu pirralho de estimação.
Voltando aos cães: Um casal de amigos resolveu comprar um cachorro. Assim que começaram a conviver os dois perceberam que três era de mais: O cão estragava as roupas, latia muito e era carente. Chamaram, então, um profissional para ajudar a educar o cachorro. Depois de meses de trabalho, e zero de mudança, o casal decidiu:
- Ao inferno com este bicho. Não o queremos mais.
O treinador contratado por eles acabou ficando com o cão, de pura pena.
Hoje o casal de amigos tem um filho. Embora o pequeno também dê trabalho, como todas as crianças do mundo- eles não querem devolvê-lo.
Mas tem gente que devolve filho. Há uns cinco anos atrás, um adolescente aqui nos EUA foi pego com drogas. O moleque era brasileiro, adotado por uma família americana desde criança. A lei local diz que se fez coisa errada, que seja devolvido para seu país de origem. Sem falar português e sem conhecer ninguém por lá, o moleque foi deportado para o Brasil.
Imagine se a moda pega: Seu filho fez chilique hoje? Devolve. Bateu no irmão? Devolve.
Falar em devolver, preciso parar agora de escrever. O pessoal do correio está na porta. Vou despachar minhas filhas para o Brasil e colocar uns cães no lugar...
sábado, 6 de outubro de 2007
Os Nove de Little Rock
Os Nove de Little Rock é como ficou conhecido aqui um grupo de estudantes negros que participou de um episódio central na luta pelos direitos civis na década de 60. O caso fez aniversário por esses dias e todo mundo voltou a falar nele.
O que os nove estudantes fizeram foi tentar entrar numa escola do Estado do Arkansas que só brancos frequentavam. Era parte de um projeto de integração gradual nas escolas, patrocinado pelo governo federal. Acontece que o povo lá não gostou nadinha da idéia. Os estudantes brancos e suas famílias fizeram uma barreira para impedir que os negros entrassem. O governador mandou a polícia para ajudar a reforçar a barreira. A repercussão foi tão grande que o presidente da época interviu, dando uma bronca no governador e mandando soldados para ajudar e proteger os estudantes negros. Depois de várias tentativas, enfim, os nove conseguiram entrar. Mas a polícia teve que ficar de guarda na escola durante todo o ano letivo para evitar que algo ruim acontecesse.
Quando viemos procurar uma casa para morar aqui, a dica foi: procurem onde estão as melhores escolas e morem por perto, porque as crianças serão encaminhadas para a escola mais próxima da sua casa.
O ensino público aqui segue os ideais americanos de igualdade e oportunidade para todos, as escolas públicas funcionam e têm qualidade. Mas nem tudo é perfeito. As escolas se mantêm com as taxas arrecadadas no bairro em que estão. Resultado: a qualidade depende da condição econômica de quem mora na região.
Sabem quantas crianças negras havia na escola particular que minhas filhas frequentavam no Brasil? Zero. Aqui já contei dúzias andando pelos corredores da escola.
Quando viemos procurar uma casa para morar aqui, a dica foi: procurem onde estão as melhores escolas e morem por perto, porque as crianças serão encaminhadas para a escola mais próxima da sua casa.
O ensino público aqui segue os ideais americanos de igualdade e oportunidade para todos, as escolas públicas funcionam e têm qualidade. Mas nem tudo é perfeito. As escolas se mantêm com as taxas arrecadadas no bairro em que estão. Resultado: a qualidade depende da condição econômica de quem mora na região.
Sabem quantas crianças negras havia na escola particular que minhas filhas frequentavam no Brasil? Zero. Aqui já contei dúzias andando pelos corredores da escola.
Trabalhando com formação de educadores no Brasil, vi de perto os problemas do ensino público em São Paulo. O sinal para o recreio parece uma sirene de polícia. Os livros e os brinquedos ficam guardados em armários trancados. Algumas professoras deixam os pequenos o dia todo sem fazer nada, nem desenho, nem livro, nem brinquedo. Mas nunca vi os pais reclamarem e vários me disseram que, como não pagam pela escola, acham que os professores estão lá fazendo um favor ficando com seus filhos.
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