Viajando como mochileira pela Europa há mais de vinte anos atrás, acabei seduzida pela Itália e os amigos que conheci por lá. No dia de ir embora, estava muito frio. Ticiano e Fiorella nos acompanharam até a barca que atravessaria os canais de Veneza. Trocamos abraços muito demorados. Perto de entrar na barca, ouvi Fiorella me chamar . Voltei e vi minha amiga correndo de volta. Tirou do pescoço um lenço verde de seda que usava diariamente. Enrolou-o em volta de meu pescoço. Aquele pedaço de pano era um pouquinho ela. Guardo-o até hoje. E coincidentemente era ele que esquentava meu pescoço no dia de nossa despedida nos Estados Unidos.
Minha amiga Americana apareceu para se despedir. Tirou de sua bolsa um pequeno embrulho e me entregou. Eram os brincos brancos que ela usava com frequência:
- Quando voce usar, vai lembrar de mim.
Vesti os brincos, usando ainda a echarpe verde da amiga Italiana que nunca mais revi.
Nossa casa estava cheia de amigos que tinham aparecido para se despedir. Minha vizinha tentou colocar no bagageiro do carro um colchão de casal que demos para ela. Nao coube. A saída foi levar na capota do carro, cheio de neve. Com uma mão ela segurava o colchão, com a outra a direção. Da janela disse:
- Até amanhã.
Hora de partir.
Amigas de La Pimenta a carregavam no colo e choravam.
La Cotoneta foi num carro ocupado por mais quatro amigas. Uma turca, outra alemã, a terceira koreana, uma americana e La Cotô, brasileira, ou todas americanas depois de tanto tempo por lá?
O caminho até o aeroporto foi de música, abraços e choro.
A sinfonia de fungos aumentava a medida que chegávamos mais perto. No saguão do aeroporto, as cinco amigas se abraçaram numa roda. Uma moça parou para observar. Um senhor veio me contar que tinha passado pela mesma situação quando era mais jovem e teve que se despedir dos amigos em seu país de origem. Uma menina puxou a mãe para que pudesse observar a cena. Outra tirou fotos.
Hora de ir.
As meninas puxaram La Cotô, ofereceram suas casas para que ela morasse e juraram amizade eterna. Não foi fácil atreavessar aquele portão.
2010 supimpa para todos.
Adriana.